Blog Rocha 100

No princípio, criou Deus os céus e a Terra”. Ótima frase para um Blog que navegará 100 fronteiras: dos céus metafísicos à “rude matéria” terrestre. “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. Pois, somos também deuses, e criadores. Podemos, principalmente, criar a nossa própria vida, com autonomia: isto se chama Liberdade. Vida e Liberdade são de Deus. Mas, quem é “Deus”? Devotos hebreus muito antigos, referiam-se a Ele apenas por perífrases de perífrases. Para Anselmo de Bec, Ele é “O Ser do qual não se pode pensar nada maior”. Rudolf Otto, diante da dificuldade de conceituá-Lo, o fez precisamente por essa dificuldade; chamou-O “das Ganz Andere” (o Totalmente Outro). Há um sem número de conceitos de Deus. Porém, o que mais soube ao meu coração foi este: “O bem que sentimos intimamente, que intuímos e que nos faz sofrer toda vez que nos afastamos dele”. É de uma jovem filósofa: Catarina Rochamonte.

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

A onda conservadora e os imperativos do progresso

Desde que milhões de pessoas ocuparam as ruas em protestos contra o pretensamente progressista governo Dilma/PT, fala-se de uma onda conservadora no Brasil. No momento, com a polêmica "Queermuseu", autoproclamados progressistas afligem-se com o possível recrudescimento dessa onda. Ondas de opinião, pra lá e pra cá, sempre existem. Cabe refletir sobre o tema.

A ideia-força do Iluminismo - corrente de pensamento que, mais que qualquer outra, influenciou a construção da democracia moderna - é o progresso. Reagindo aos excessos da Revolução Francesa, de matriz iluminista, afirmou-se o pensamento conservador, principalmente com o irlandês Edmund Burke. E vejam: se o Iluminismo - com Locke, Monstesquieu, Rousseau, Voltaire, Kant e tantos outros - tem sido excelente escola político-filosófica, o pensamento conservador é também deveras apreciável. Tenham curiosidade e vão ler: além de Burke, dentre outros, Ayan Rand, Raymond Aron, Thomas Sowell, Roger Scruton.

Se as ideias progressistas do Iluminismo impulsionaram as modernas democracias, o conservadorismo também nelas se firmou. Parece paradoxal, mas não é; é complementar. Tão complementar que nas democracias a cena mais comum é a alternância de poder entre partidos de feição progressista e partidos de feição conservadora. Portanto, se há uma onda conservadora no Brasil, não deve ser motivo de aflição. Vejam esse exemplo: a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, consagrada líder da democrática União Europeia, é dirigente da conservadora CDU (União Democrata-Cristã). As eleições na Alemanha estão marcadas para o dia 24 deste corrente mês de setembro. Merkel está em disputa acirrada com Martin Schulz, do progressista SPD (Partido Social-Democrata). No caso de permanência da UCD ou de vitória do SPD, a Alemanha continuará democrática; e, tudo indica, próspera.

O progresso é um imperativo das sociedades. E significa, na linha do pensamento iluminista, uma mudança para melhor. Por outro lado, o pensamento conservador assim se chama porque enfatiza a obviedade de que sempre haverá instituições e valores que se devem conservar. Auguste Comte, pai do Positivismo, expôs isso em uma fórmula singela: "Progredir é conservar melhorando".

Dizer que há uma onda conservadora no Brasil não explica muito. Pode ser uma onda conservadora ruim, mas pode ser uma onda conservadora boa. O progresso é excelente coisa, mas em nome do progresso já se produziu muito atraso. Será excelente que venha sobre o Brasil uma onda progressista, mas no sentido iluminista originário, de uma mudança para melhor. Enfim, em relação a qualquer onda na sociedade, é preciso atentar menos no nome que lhe dão e mais no seu sentido e direção.

Nenhum comentário:

Postar um comentário