Blog Rocha 100

No princípio, criou Deus os céus e a Terra”. Ótima frase para um Blog que navegará 100 fronteiras: dos céus metafísicos à “rude matéria” terrestre. “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. Pois, somos também deuses, e criadores. Podemos, principalmente, criar a nossa própria vida, com autonomia: isto se chama Liberdade. Vida e Liberdade são de Deus. Mas, quem é “Deus”? Devotos hebreus muito antigos, referiam-se a Ele apenas por perífrases de perífrases. Para Anselmo de Bec, Ele é “O Ser do qual não se pode pensar nada maior”. Rudolf Otto, diante da dificuldade de conceituá-Lo, o fez precisamente por essa dificuldade; chamou-O “das Ganz Andere” (o Totalmente Outro). Há um sem número de conceitos de Deus. Porém, o que mais soube ao meu coração foi este: “O bem que sentimos intimamente, que intuímos e que nos faz sofrer toda vez que nos afastamos dele”. É de uma jovem filósofa: Catarina Rochamonte.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Contra os extremismos, a "ideologia democrática do entusiasmo": segunda parte da réplica a José Octávio

rocha100.blogspot.com.br

Continuando com suas ressalvas aos meus ensaios constantes no livro "Natureza e Excelência da Liberdade e da Democracia", José Octávio de Arruda Mello considera que eu, ao abandonar o "ultrasectarismo de esquerda", teria me encaminhado para "a outra extremidade". Não procede. Parece-me um extremo equívoco de leitura. Meus textos expressam, enfaticamente, o repúdio aos extremismos políticos. A outra extremidade do "ultrasectarismo de esquerda", entendo que seja o "ultrasectarismo" de direita. A linha política que sigo compõe um arco que vai do liberalismo clássico ao liberal-socialismo de Norberto Bobbio, passando pela social-democracia e pelo trabalhismo, doutrinas monotonamente moderadas, avessas aos extremismos. Aliás, no meu texto sobre Bobbio, cito seu enfático repúdio aos extremismos: "detesto os fanáticos com todas as minhas forças". Se não ficou suficientemente claro no texto analisado, que fique agora: eu sigo Bobbio na sua ojeriza pelo fanatismo ("ultrasectarismo"). E tanto o sigo que o tomo por protótipo da "ideologia" que professo; um meio termo virtuoso entre a indiferença e o fanatismo: a "ideologia democrática do entusiasmo".

José Octávio levanta uma divergência em relação à condenação que faço de Lênin, no meu entender o principal responsável pelo que chamei de "perdição totalitária do marxismo". J.O. entende que a desgraça totalitária que devastou a Rússia após a Revolução de 1917 (que J.O. chama, muito polidamente, de "contrafação") não se deve a Lênin, mas sim a Stálin. Eu continuo afirmando que o stalinismo foi uma consequência lógica do leninismo. Como no meu ensaio expliquei extensamente esse meu entendimento, aproveito para aconselhar que adquiram o livro, disponível na Livraria do Luiz e em O Sebo Cultural.

Em face das minhas críticas um tanto acerbas ao marxismo e ao sectarismo de esquerda, José Octávio alerta para "o risco de nos filiarmos às falácias do neo-liberalismo". Da minha parte não tem nenhum perigo, pois sou adepto do velho-liberalismo, aquele da Revolução Francesa - Liberté, Égalité, Fraternité -; avançando sempre, em uma Revolução Permanente, como brilhantemente exposto, no nosso referido livro, por Iremar Bronzeado, o Filósofo da Liberdade. Na mesma linha de preocupação, José Octávio considera que o marxismo não deve ser recusado em bloco, mas revisado. Eu concordo, e entendo que a mais substancial e acertada revisão do marxismo já foi feita. E foi feita antes mesmo da perdição totalitária do marxismo nas mãos dos bolchevista. Foi feita no fim do século XIX pelo marxista alemão Eduard Berstein, sendo esta revisão o primeiro fundamento intelectual da social-democracia. Os sociais-democratas foram denunciados por Lênin como traidores e renegados. Na Rússia, os marxistas sociais-democratas se tornaram conhecidos pela alcunha de mencheviques, enquanto os leninistas se tornaram conhecidos como bolcheviques. No início da Revolução, mencheviques e bolcheviques lutaram juntos contra o regime czarista. Quando os bolcheviques assumiram o poder, trataram de aniquilar os mencheviques; e não só os mencheviques, mas toda e qualquer oposição. Esse processo de aniquilamento começou ainda com Lênin no comando.

Enfim, vamos a esta indagação de José Octávio: "Para concluir, o que me pergunto é se, impressionado com o liberalismo de Bobbio, W.R. não percebeu a dimensão também socialista - e nesse caso esquerdizante de seu pensamento". Em parte, é pertinente a preocupação de J.O. Com efeito, não dei destaque à dimensão socialista de Bobbio, embora a tenha percebido e a tenha referido. Explico: comecei a ter maiores notícias de Norberto Bobbio no convívio acadêmico, no Mestrado de Filosofia da UFPB, onde o marxismo era dominante. Pelo que falavam professores e alguns colegas, fiquei com a impressão de que Bobbio fosse um tipo de "marxista pós-moderno". Assim, ao ler o livro "O Futuro da Democracia" fiquei de queixo caído, deveras espantado em descobrir que Norberto Bobbio era liberal até à medula dos ossos. Fiquei entusiasmado e recolhi tudo que pude comprar ou conseguir emprestado, compondo uma bibliografia razoável do jurisfilósofo italiano. Em estendidas leituras, confirmei minhas melhores expectativas, a ponto de colocar Bobbio entre minhas principais referências em filosofia política. Não deixei de perceber a dimensão socialista do seu pensamento, mas minha motivação para escrever o ensaio em questão foi mesmo destacar seu liberalismo. De tudo que li - e não foi pouco -, entendi que o socialismo de Bobbio subordina-se à sua concepção de democracia, que é radicalmente liberal,  enfatizando que que Estado Democrático e Estado Liberal são interdependentes; o que também pode ser dito da seguinte forma: sem liberalismo não há democracia e sem democracia não há liberalismo. Na perspectiva levantada por Bobbio, de primazia democrática, também eu sou muito simpático ao socialismo. Desde que caiba dentro da democracia, o socialismo será excelente coisa. A questão do socialismo é a questão da igualdade, que é um pressuposto da Democracia, tal como a liberdade também o é. Entendo que a maior estupidez dos séculos tem sido a tentativa dos bolchevistas em construir a igualdade com o sacrifício inicial da liberdade. Por tal caminho, em seguidas experiências, depois de assassinarem a liberdade, os marxistas-leninistas construíram apenas a igualdade da servidão e das covas. É isso que tento demonstrar no nosso livro. Portanto, insisto, vão à Livraria do Luiz ou ao O Sebo Cultural e comprem o livro (mesmo porque preciso de capital para editar outro livro).

Continua e finaliza no próximo post.
     

Nenhum comentário:

Postar um comentário