Blog Rocha 100

No princípio, criou Deus os céus e a Terra”. Ótima frase para um Blog que navegará 100 fronteiras: dos céus metafísicos à “rude matéria” terrestre. “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. Pois, somos também deuses, e criadores. Podemos, principalmente, criar a nossa própria vida, com autonomia: isto se chama Liberdade. Vida e Liberdade são de Deus. Mas, quem é “Deus”? Devotos hebreus muito antigos, referiam-se a Ele apenas por perífrases de perífrases. Para Anselmo de Bec, Ele é “O Ser do qual não se pode pensar nada maior”. Rudolf Otto, diante da dificuldade de conceituá-Lo, o fez precisamente por essa dificuldade; chamou-O “das Ganz Andere” (o Totalmente Outro). Há um sem número de conceitos de Deus. Porém, o que mais soube ao meu coração foi este: “O bem que sentimos intimamente, que intuímos e que nos faz sofrer toda vez que nos afastamos dele”. É de uma jovem filósofa: Catarina Rochamonte.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Para mim será uma honra debater com Romeu de Carvalho

rocha100.blogspot.com.br

Romeu de Carvalho é nome de excelência em várias atividades: médico sanitarista, escritor, compositor, teatrólogo. E é um quadro intelectual dos mais valorosos da esquerda brasileira, velho combatente contra a ditadura militar e intensamente presente em todas as grandes lutas que culminaram com a redemocratização do nosso país. Eu também participei dessas lutas, e esta é uma das circunstância que nos irmana. Romeu, meu grande amigo, leu meus ensaios constantes do livro "Natureza e Excelência da Liberdade e da Democracia". Leu e não gostou. Reproduzo a nota crítica que me enviou e a seguir faço um comentário, no sentido de levar adiante um debate que muito me honra.


"No livro "Natureza e Excelência da Liberdade e da Democracia", a participação de Washington muito me impressionou...

Realmente, conhecendo-o há tanto tempo, não imaginei que sua visão estivesse tão diferente, pois seu texto reverte para um polo totalmente adverso daquele que a nossa geração assimilou, em relação a conscientização social e política.

Naquele tempo, nossa mente absorvia o mais concreto e correto, quando vivenciávamos uma área relacionada ao "terceiro mundo" em que a característica predominante em todo processo existencial se revertia na expressão do controle de todo andamento racional.

Quando surgiu o famigerado "golpe de 64", que tinha o propósito de desestruturar nosso país, para mais facilmente dominá-lo, caminhávamos em busca de um pensamento, contra o que já compreendíamos e que esses nossos pensamentos verdadeiros seriam sempre preservados.

Portanto não compreendo como um escritor que vivenciou com intensidade o "golpe de 64", imposto pelo grande poder econômico, possa aceitá-lo como elemento preponderante no compasso racional, que a mente lhe preservasse.

Nessa circunstância de raciocínio, ao ler a matéria escrita pelo amigo velho, fiquei mais afeito a considerar que se tratava de um pensamento transitório e de pouca intensidade.

Romeu de Carvalho."


Como viram, um enfoque de Romeu é que eu mudei minha forma de pensar. E ele está certo. Na minha adolescência, quando me iniciei na luta política, enfrentando a ditadura militar no levante estudantil de 1968, pensava de acordo com a doutrina marxista-leninista/bolchevista e lutava contra a ditadura militar com o objetivo de implantar a "ditadura revolucionária do proletariado". Bolchevista continuei durante bastante tempo; até que bastou. Hoje, abomino o bolchevismo e detesto todas as ditaduras; dos militares ou do proletariado, de direita ou de esquerda. Considero o totalitarismo comunista tão nefasto e desgraçado quanto o totalitarismo nazifascista. Romeu tem amor sincero pela causa democrática, que é a causa do povo. Parece-me, entretanto, que considera o regime de livre iniciativa econômica e direito de propriedade - que se chama capitalismo - incompatível com a democracia. Já eu penso exatamente o contrário: sem direito de propriedade e livre iniciativa econômica, não pode haver democracia. Quando o Estado sequestra para si a propriedade e assume o monopólio da iniciativa econômica, a sociedade fica submetida a um regime coletivista de servidão. Os ideais socialistas, que são os de Romeu, podem ser os meus; desde que realizados sem perda das liberdades democráticas. Eu não aprecio o "grande poder econômico", aprecio a livre iniciativa econômica; inclusive a iniciativa de abrir uma padaria, fazer funcionar uma casa de farinha, viajar de cidade em cidade com circo mambembe, vender pipoca na rua ou fabricar picolé dim-dim na geladeira velha. E também a iniciativa de escrever livros e vender de porta em porta, que é mais ou menos o que estou fazendo com o nosso "Natureza e Excelência da Liberdade e da Democracia" (quem quiser comprar, é só avisar). Sem livre iniciativa não há progresso possível. Não creio na emancipação dos trabalhadores através da violência, das revoluções sanguinárias de terra arrasada. Creio na emancipação e progresso dos trabalhadores - e de todo o povo - através de reformas e acumulação de conquistas. Nessa linha, aliás, seguem os partidos da Internacional Socialista, é esse o caminho da social-democracia, de tantas conquistas históricas da classe trabalhadora. É possível que Romeu venha a concordar comigo nesse ponto. Se, neste início de debate, Romeu marcou pontos de divergência, eu quero marcar pontos de encontro (inclusive marcar um ponto de encontro para tomar uma cerveja). Convido-o a continuar o debate. E há mesmo entre nós, eu e Romeu, um fator de convergência superior a qualquer divergência: eu e ele somos cristãos. Comunguemos. 

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