Blog Rocha 100

No princípio, criou Deus os céus e a Terra”. Ótima frase para um Blog que navegará 100 fronteiras: dos céus metafísicos à “rude matéria” terrestre. “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. Pois, somos também deuses, e criadores. Podemos, principalmente, criar a nossa própria vida, com autonomia: isto se chama Liberdade. Vida e Liberdade são de Deus. Mas, quem é “Deus”? Devotos hebreus muito antigos, referiam-se a Ele apenas por perífrases de perífrases. Para Anselmo de Bec, Ele é “O Ser do qual não se pode pensar nada maior”. Rudolf Otto, diante da dificuldade de conceituá-Lo, o fez precisamente por essa dificuldade; chamou-O “das Ganz Andere” (o Totalmente Outro). Há um sem número de conceitos de Deus. Porém, o que mais soube ao meu coração foi este: “O bem que sentimos intimamente, que intuímos e que nos faz sofrer toda vez que nos afastamos dele”. É de uma jovem filósofa: Catarina Rochamonte.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Os rolezinhos e o Grande Rolezão da Copa do Mundo 2014

Ministros do governo Dilma, certamente com aval da presidenta, estão defendendo os rolezinhos que se espalham pelos shoppings do Brasil. Declarações de dois ministros merecem registro pela capciosidade, em um caso, e expressão de racismo, em outro.

Gilberto Carvalho, ministro da Secretaria-Geral da Presidência, declarou sobre os rolezinhos:

"Uma manifestação clara da juventude que não tolera mais a limitação de espaços, a segregação de espaços só para aqueles que são bons consumidores, não aceita mais a discriminação por raça, por orientação social seja o que for".

Pra começo de conversa, o ministro está mentindo. De modo geral (e o ministro generalizou), os shoppings não discriminam por raça. Posso dar testemunho pessoal porque sou frequentador assíduo de shoppings, aqui em João Pessoa e em cidades que visito com alguma frequência, como Recife, Natal e Fortaleza. Em todos os shoppings que tenho frequentado, tenho visto pessoas de várias etnias, ou mesmo vou acompanhado de amigos e amigas de etnias diversas: negros, brancos, japoneses, índios e miscigenados em várias combinações (aliás, tem combinações que ficam uma beleza - as morenas, por exemplo; meu Deus!): todos consumindo, ou apenas passeando e conversando, em paz. Havendo casos específicos de discriminação étnica por parte de algum shopping, configura-se crime e deve ser punido. Também não é verdade que os shoppings só permitam o acesso dos "bons consumidores". Provo isso com muita facilidade: eu sou um péssimo consumidor e nunca fui expulso de nenhum shopping. Estou cansado de ir a shoppings e consumir apenas um sorvete de casquinha (2 reais).

As declarações capciosas do ministro Gilberto Carvalho foram suplantadas pelas declarações racistas de Luiza Bairros, que vem a ser, pasmem, ministra da Igualdade Racial. Declarou a ministra sobre os rolezinhos:

"As manifestações são pacíficas. Os problemas são derivados da reação de pessoas brancas que frequentam esses lugares e se assustam com a presença de jovens".

Isso não é apenas uma mentira escancarada, é uma mentira intencionada. No caso, mal intencionada, que discrimina os brancos, pejora os brancos e fomenta o ódio entre etnias. Configura-se aí crime de racismo? Deixo aos advogados, promotores, procuradores e juízes a avaliação, à luz da Constituição. Que é uma generalização mentirosa, está na cara. Pelos vários vídeos e fotos que o Brasil viu e está vendo, tanto entre os rolezeiros quanto entre os frequentadores habituais dos shoppings, havia pessoas de todos os matizes de pele (no Brasil, seria de estranhar se não fosse assim). Por outro lado, será tolice supor que apenas as "pessoas brancas" possam se assustar diante de ocorrências inusuais, como uma aglomeração muito grande e correrias em um shopping. Mas, no caso da ministra, não foi tolice; foi astúcia politiqueira.

A astúcia politiqueira, claro, não é só da ministra Luiza; está na fala do ministro Gilberto e pode-se presumir que seja orientada pela presidenta Dilma e seu marqueteiro. Segundo comentários de vários politicólogos, o objetivo da turma de Lula-Dilma-PT ao apoiar os rolezinhos é ganhar a simpatia e os votos dos jovens da periferia. Não é uma conclusão difícil e eu acho que é isso mesmo. Agora, não sei se vai dar certo. Se os rolezinhos avançarem em violência, pode dar errado. E tem outro perigo: ao incentivar os rolezinhos de janeiro nos shoppings, o governo Dilma pode receber por acréscimo o Grande Rolezão da Copa 2014, nas ruas e nos estádios, repetindo-se, em escala maior ou menor, as Jornadas de Junho de 2013.

Com efeito, já corre pela internet e no boca-a-boca a convocação de mobilizações durante a Copa do Mundo de Futebol; e tem até uma prévia agendada para o dia 25/01. Essa prévia pode não acontecer e a tendência era de que não acontecesse. Porém, a eclosão dos rolezinhos, ainda mais tendo o apoio do governo, com declarações entusiásticas de ministros, pode levar muita água ao moinho dos mobilizadores.

Manifestações de protesto durante a Copa do Mundo é tudo que Dilma não quer. Talvez a estratégia de incentivo aos rolezinhos tenha sido mal calculada. "O feitiço pode virar contra o feiticeiro"; "O tiro pode sair pela culatra"; etc.

Seja como for, se acontecer o GRANDE ROLEZÃO DA COPA DO MUNDO 2014, esperamos que seja pacífico. Mas quem garante? Do mesmo modo, quem garante que os rolezinhos, incentivados pelo governo Dilma, não desandem para a violência?

 



domingo, 12 de janeiro de 2014

Sobre ideologia/política e amizade - ou Voltaire, a esquerda festiva, a tolerância e o totalitarismo: um post em homenagem ao combativo intelectual/educador José Renato Uchôa

Intelectual, educador e militante político dos mais destemidos, meu velho amigo José Renato Uchôa tem divulgado, de vez em quando, em sua página no Facebook, uns artigos muito bem escritos, fortes e veementes enfocando o processo judicial do mensalão/Ação Penal 470, a prisão dos mensaleiros e, em especial, a atuação do Presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa. Não tenho concordado com uma única linha desses artigos, mas tenho publicado todos no Portal 100 Fronteiras (www.portal100fronteiras.com.br). Sempre que publico, envio mensagem a Zé Renato nesse sentido: que não concordo, mas publico. E lembro Voltaire:

"Não concordo com uma única palavra do que dizes, mas lutarei até a morte pelo teu direito de dizê-las".

Sobre o último artigo de Zé Renato que publiquei, como resposta a uma mensagem desse tipo que lhe enviei, meu amigo me respondeu com duas outras que me deixaram bem contente. Tais mensagens aí estão, no fim deste post. Verão vocês que tenho motivos para me alegrar. No post anterior havia falado exatamente sobre a possibilidade de que amizade valesse mais do que discordâncias político-ideológicas. Tendo sido eu marxista, bolchevista e petista, tenho vários amigos e amigas nesse campo. Hoje, abomino o marxismo, o bolchevismo e o lulo-petismo. Todavia, a amizade que nutri pelos velhos companheiros e inesquecíveis companheiras continua a mesma. Essa é uma das muitas vantagens da democracia: a tolerância, a convivência entre pessoas de ideias contrárias. Vejam que no totalitarismo (tanto o totalitarismo bolchevista quanto o totalitarismo nazi-fascista) tais discordâncias são, usualmente, resolvidas com o extermínio de uma das partes. Stálin, por exemplo, matou todos os seus velhos companheiros do comando bolchevista (não matou Lênin porque Lênin se apressou em morrer). Na China, os velhos companheiros do Presidente Mao assassinaram a mulher do velho companheiro. E ainda agora, dia desses, o bolchevista Kim Jung-Un, ditador no regime marxista-leninista da Coréia do Norte, segundo informação do jornal chinês "Wen Wei Po", jogou o próprio tio numa jaula para ser devorado por 120 cães ferozes e famintos (velozes e furiosos, também se pode dizer).

Mas quero avisar aos velhos companheiro e inolvidáveis companheiras que continuo me reclamando da esquerda. Esquerda democrática e liberal (mesmo porque sem liberalismo não existe democracia). Esquerda democrática e festiva, claro. Quando eu era bolchevista, meus companheiros mais sisudos me acusavam de ser um porra-louca, esquerda festiva. Agora que passei a abominar todo tipo de totalitarismo (antes abominava apenas o totalitarismo nazifascista e achava o totalitarismo comunista uma beleza) tenho melhores motivos para querer que a esquerda seja festiva. Não sou da esquerda caviar porque não tenho dinheiro para comprar caviar. Para mim, cerveja com siri e amendoim já está de bom agrado. Aliás, acho que quem é de direita é esse pessoal que defende ditaduras, inclusive a ditadura do proletariado. Essa, diga-se, é a mais safada de todas as ditaduras, porque, além de não prestar, é mentirosa, propaganda enganosa: nunca existiu nem tem como existir ditadura do proletariado. É preciso ser muito cretino para elaborar tamanha charlatanice (e essa não foi a única charlatanice elaborada por Marx e Engels) e ainda mais cretino para acreditar.

Voltemos à amizade. Em dezembro passado, tentei combinar com Zé Renato e outro amigo dos tempos do velho PT (Francisco Costa de Araújo, o famoso Chico Gato), ambos morando distante da nossa amada Felipéia de Nossa Senhora das Neves, um encontro aqui na Praia do Bessa, no Restaurante do Arruda, que é militante do PSOL. Não deu certo. Seria um encontro nostálgico no qual tentaríamos reunir toda a esquerda bolchevista e festiva dos tempos de antanho: dos anos de chumbo, da campanha da Anistia, da fundação do PT. Beberíamos cerveja e ouviríamos músicas antigas: "Soy Loco Por Ti América", "Caminhando e Cantando", "Junto À Fogueirinha de Papel", "Comandante Che Guevara", "A Internacional Comunista",... Para matar saudades, eu não me incomodaria em voltar a ser bolchevista por um dia (e uma noite, claro).

Não deu certo. Mas a ideia, pelo menos para mim, não morreu. Meus velhos e muito caros amigos Zé Renato e Chico Gato, se e quando vocês novamente vierem a Jampa Capital, poderemos retomar o plano nostálgico. Ajudem-me a compor a lista de convidados. Não poderá deixar de ser lembrado nenhum velho camarada bolchevique, nenhuma antiga companheira de lutas.

VIVA A LIBERDADE! VIVA A SAUDADE! VIVA A AMIZADE! 



Jose Renato Uchoa comentou a publicação dele.
Jose Renato escreveu: "O Portal100 Fronteiras é a imprensa que o Brasil precisa.Dignifica a verdadeira liberdade de expressão.Abração."
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Jose Renato Uchoa comentou a publicação dele.
Jose Renato escreveu: "Amigo, importante alguém de experiência do Portal investigar o Laudo que falei no artigo.Ele explica o que houve ,desmonta realmente a sacanagem que Joaquim fez.Sabes que esses caras sempre foram contra o formato que imprimimos ao PT nos velhos tempos.Não resta dúvidas que o PT nos traiu , a todos.A questão é que minha defesa não é deles, é de um princípio.Ab."



quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

O Papa Francisco, o marxismo e um artigo magistral do filósofo Denis Rosenfield (modificado e corrigido)

O Papa Francisco criticou o capitalismo. Não é novidade, outros papas também criticaram, todo mundo critica o capitalismo. Uns conservadores norte-americanos exageraram na condenação ao Papa Francisco e o acusaram de ser marxista. Eis que a resposta do Papa causou ainda maior rebuliço. Ei-la:

"A ideologia marxista é errada, mas na minha vida conheci muitos marxistas que eram boas pessoas, por isso não me sinto ofendido".

No Brasil, a turma da esquerda marxista fez a festa com a critica ao capitalismo e também com a declaração de amizade de Francisco aos bons marxistas. Quanto ao fato de o marxismo ser declarado como um erro, isso foi deixado de lado. Já eu considero que isso é o mais importante: o marxismo é um erro.

O marxismo é o mais desgraçado dos erros que a inteligência humana produziu, um erro que durante algum tempo conduziu metade da humanidade de volta à servidão, um erro que construiu estados totalitários especializados em falsificar, mentir, perseguir, prender, torturar e assassinar. Os assassinatos dos regimes marxistas foram realizados em escala monumental: 20 milhões na União Soviética, 70 milhões na China Comunista (arredondando em números conservadores). No Cambodja, o regime marxista do Khmer Vermelho exterminou cerca de 7 milhões de pessoas, um terço da população. O regime de servidão inaugurado pelos marxistas na Rússia, em 1917, constituiu-se em império e dominou meio-mundo por pouco mais de meio século. Aí, apodreceu e desmoronou em quase todo o mundo. Desgraçadamente, subsiste ainda em países como a Coréia do Norte, com sua sórdida tirania de marxistas hereditários.  E em Cuba, numa tirania que passa de irmão para irmão. Na China vige uma tirania marxista de partido único sustentada por um regime econômico de capitalismo-selvagem.

O marxismo é um erro, todavia o Papa Francisco tem também razão quando afirma que existem marxistas que são boas pessoas. Eu mesmo conheço vários, tanto no plano histórico quanto no plano das minhas relações pessoais. Marxistas históricos eu até admiro alguns, especialmente aqueles que foram críticos duros da mais abominável forma de marxismo, que é o bolchevismo. Minha querida Rosa de Luxemburgo, por exemplo, ainda nos albores da revolução de 1917, gritou a verdade sobre a "ditadura do proletariado" imposta na Rússia pelo tirano Lênin e seus sequazes: "É uma ditadura sobre o proletariado". Também admiro o marxista Otto Rühle, que lutou na resistência ao nazismo na Alemanha e escreveu o libelo "A luta contra o fascismo começa com a luta contra o bolchevismo", onde demonstra que bolchevismo, fascismo e nazismo é tudo uma família só, sendo o bolchevismo o pai. E, antes da Rosa e do Otto, o grande marxista Eduard Bernstein, que, na virada do séc. XIX para o séc. XX, revisou o marxismo e logrou trazer parte significativa do  movimento socialista internacional para o leito da democracia, na forma da social-democracia.

Quanto aos marxistas meus amigos, já por serem meus amigos, merecem minha admiração e afeto; só peço que, se lerem esse texto, não me queiram mal. A amizade, pelo menos para mim, é um valor maior que qualquer ideologia.

Voltemos às críticas do Papa Francisco ao capitalismo. Foram críticas genéricas. Ele está coberto de razão, e eu não conheço um único cristão que não faça críticas genéricas ao capitalismo. Eu mesmo, que vivo em um país capitalista, pra onde olho vejo coisa errada. Se olhar para o mundo capitalista globalizado, também vejo muita coisa errada e critico, como o Papa Francisco vê e critica. Se, todavia, a crítica ao capitalismo é salutar, a crítica da esquerda marxista ao capitalismo por comparação ao socialismo/comunismo é mistificadora, um embuste rasteiro. E aqui chego ao referido artigo de Denis Rosenfield. Um artigo magistral, não porque revele alguma novidade, mas porque dito com argúcia e precisão irresistíveis. Intitula-se "O embuste ideológico", foi publicado em O Globo (30/12/2013) e reproduzido em vários sites e blogs. Aconselho a leitura, já transcrevendo aqui dois trechos:

"Não há sequer uma experiência histórica de compatibilização entre socialismo/comunismo e democracia".

Essa é uma velha constatação que precisa ser sempre repetida. Com a expressão "socialismo/comunismo", Rosenfield, certamente, refere-se ao socialismo marxista. O chamado socialismo-democrático praticado há décadas em vários países europeus é, na verdade, um capitalismo avançado. O marxismo, repita-se, provou-se incompatível com a democracia não apenas quando colocado em prática; mas tal incompatibilidade é mesmo doutrinária. Pela letra da doutrina, tal como expressa por Marx e Engels, a "ditadura revolucionária do proletariado" é o único caminho que abre as portas do paraíso. Revisionistas como Eduard Bernstein e Karl Kautsky rejeitaram essa chave de violência e opressão, e por isso foram chamados pelo marxistas ortodoxos de "renegados" (com razão, do ponto de vista da ortodoxia marxista, diga-se). É importante repetir essa obviedade da incompatibilidade entre marxismo e democracia porque hoje o pau que mais tem no Brasil é marxista envolto em capa de democrata. Quem quiser ser democrata que abandone o marxismo: acender uma vela para Deus e outra para o diabo é pecado.

Vamos ao trecho em que Rosenfield desmascara o embuste da crítica comparativa:


"O embuste consiste no seguinte: o capitalismo não é comparado ao socialismo. Se isso fosse feito, a comparação, por exemplo, deveria ser entre a Alemanha capitalista e a socialista, ou ainda, entre a Coréia capitalista e a socialista. Os termos da comparação teriam parâmetros que serviriam de critério para qualquer avaliação. A comparação é de outro tipo. Compara-se o capitalismo real, existente, com a ideia de socialismo forjada por aqueles que lhe atribuem todas as perfeições. Ou seja, atribui-se ao socialismo todas as perfeições e, de posse destes atributos, passa-se a verificar se eles 'existem' no capitalismo".    

Jesus Cristo, sabe o Papa Francisco e sabemos todos nós, pregou o Paraíso Celeste; já mesmo por saber da impossibilidade do paraíso na terra. Está em João 16, 33: "No mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo".

Karl Marx - que não acreditava em Jesus Cristo, nem em Deus, nem no Céu - profetizou o paraíso terrestre. Uma beleza de paraíso. Mas, pelo método usado para produzir o paraíso terrestre, os marxistas foram reproduzindo na terra o inferno.

O capitalismo não pode ser comparado a nenhum paraíso e nunca chegará a ser um paraíso, mas sempre pode ser melhorado. Os extintos regimes marxistas se provaram tão ruins que será difícil até mesmo imaginar como poderiam ter sido piorados. Já os regimes marxistas subsistentes que vêm tentando melhorar, o fazem por aplicação de doses maiores ou menores de, vejam só..., capitalismo.