Blog Rocha 100

No princípio, criou Deus os céus e a Terra”. Ótima frase para um Blog que navegará 100 fronteiras: dos céus metafísicos à “rude matéria” terrestre. “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. Pois, somos também deuses, e criadores. Podemos, principalmente, criar a nossa própria vida, com autonomia: isto se chama Liberdade. Vida e Liberdade são de Deus. Mas, quem é “Deus”? Devotos hebreus muito antigos, referiam-se a Ele apenas por perífrases de perífrases. Para Anselmo de Bec, Ele é “O Ser do qual não se pode pensar nada maior”. Rudolf Otto, diante da dificuldade de conceituá-Lo, o fez precisamente por essa dificuldade; chamou-O “das Ganz Andere” (o Totalmente Outro). Há um sem número de conceitos de Deus. Porém, o que mais soube ao meu coração foi este: “O bem que sentimos intimamente, que intuímos e que nos faz sofrer toda vez que nos afastamos dele”. É de uma jovem filósofa: Catarina Rochamonte.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

"Para a liberdade foi que Cristo nos redimiu. Permanecei, pois, firmes, e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão" - esplêndido texto de Iremar Bronzeado, o Filósofo da Liberdade

Estava eu matutando no assunto do novo post. Haveria de ser algo ligado à política democrática e ao princípio de liberdade. Eis que me chega, via e-mail, um artigo de Iremar Bronzeado; artigo este consentâneo com minhas meditações e por tal forma esplêndido que melhor eu não poderia fazer que publicá-lo. Não sendo meu, passa a ser: reclamo-o. Creio mesmo que possa ser reclamado por quantos amem a democracia e a liberdade.


 DEMOCRACIA E HISTÓRIA
Iremar Bronzeado

história da humanidade tem sido a história da luta entre os seres humanos em busca da liberdade, da democracia e do bem-estar individual; e não a luta de classes como equivocadamente dogmatizaram Marx e Engels, no Manifesto Comunista. Tanto que, nas próprias instituições classistas dominadas pelo movimento marxista, que as concebe como blocos compactos de pensamento e vontade, os indivíduos se engalfinham em memoráveis lutas internas pela conquista de influência e poder.
Desde o seu alvorecer, o homo sapiens, aos trancos e barrancos, tem, aos poucos, avançado na luta por estas metas, que humanizam o ambiente em que ele se torna cada vez mais humano. Segundo o filósofo Immanuel Kant (Idéia de uma história universalde um ponto de vista cosmopolita, Martins Fontes, São Paulo, 2011) o Iluminismo e a Revolução Francesa se constituem, no rito de passagem, da menoridade para a maioridade civil da sociedade humana, quando, em oposição às ideologias heterônomas e autocráticas do mundo antigo, foram estabelecidos os princípios balizadores da democracia moderna, quais sejam: autonomia, liberdade, igualdade, fraternidade e responsabilidade social. Para o filósofo alemão Ernst Cassirer, (1874-1945, "A Filosofia do Iluminismo, Editora da UNICAMP, 1997) os filósofos iluministas, consciente ou inconscientemente, alicerçaram os fundamentos da modernidade democrática na moralidade ética da doutrina cristã. De fato, no Evangelho, o manifesto fundador desta que foi, e ainda está sendo, a maior revolução ética, política e cultural de todos os tempos, já estão claramente prenunciadas as regras e o caminho para a busca universal da felicidade. Os grandes construtores do moderno ordenamento jurídico e social nada mais fizeram do que adaptá-las à ordem profana da sociedade civil. 
Vejamos, entre muitas, algumas passagens do Evangelho que confirmam a veracidade desta inferência filosófica: Liberdade: Lc.4:18:"O Espírito do Senhor...enviou-me para proclamar liberdade aos cativos ... e por em liberdade os oprimidos". Rm.8;21: "Na esperança de que a mesma criatura será redimida da servidão para a liberdade da glória dos filhos do Espírito". 2Co.3:17: "Ora, o Senhor é o Espírito; e onde há está o Espírito do Senhor, aí há liberdade". Gl.5:1: "Para a liberdade foi que Cristo nos redimiu. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão". Gl.5.13:"Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade". "Tg.1:25:"Aquele que atenta bem para a lei perfeita, a lei da liberdade,...será  bem-aventurado no que realizar". Tg.2:12; "Assim falai e assim procedei como devendo ser julgados pela lei da liberdade". Igualdade: Lc.l.52: "...(Jesus)...derribou os poderosos e exaltou os humildes". Lc.3:5: "Todo vale se levantará e toda montanha se abaixará". Mc.3:35:"E, olhando aos que estavam ao redor, disse: Eis...meus irmãos". Quando Jesus afirma que somos todos seus irmãos, Ele proclama a igualdade entre todos os homens,  porque somos filhos do mesmo Pai e temos os mesmos direitos e deveres diante d'Ele. Fraternidade: Mt.23:8;"...um só é vosso mestre, e vós todos sois irmãos". At.7:26:"Homens, vós sois irmãos; por que vos ofendeis uns aos outros?" Rm.14:10:"Tu, porém, por que julgas teu irmão? E tu por que desprezas o teu?" Hb.2:11:"...todos vêm de um só. Por isso é que ele não se envergonha de lhes chamar irmãos,..."1Jo.2:10:"Aquele que ama seu irmão permanece na luz, e nele não há nenhum tropeço". 1Jo.3:14:"Sabemos que já passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos; aquele que não ama permanece na morte".Responsabilidade social: Lc.6:31:"Como quereis que os homens vos façam, assim vazei vós também a eles". Mt.19:21:"Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá aos pobres e terás um tesouro nos céus." 2Co.9:"Distribuiu, deu aos pobres e sua justiça permanece para sempre."
Jesus, com o seu famoso "Dai a César o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus" (Mt.22:21), empunhou, muito avant la lettre, uma das principais bandeiras das sociedades madurecidas pela racionalidade da Ilustração, qual seja, a estrita separação entre o Estado e as instituições religiosas. Quando os seus seguidores tentaram proclamá-lo rei, Ele recusou, fugindo para as montanhas (Jo.6:15) e, quando Pilatos perguntou se Ele era o rei dos judeus, "Jesus respondeu: O meu reino não é deste mundo....O meu reino não é daqui" (Jo.6:36). Além disso, Jesus, reconhecendo os ganhos de capital com a cobrança de juros, bem como a atividade dos bancos, e dos banqueiros (Mt.25:27 e Lc.19:23), sancionou precocemente  a Democracia Liberal de Mercado, que viria, cerca de vinte séculos depois, a se perpetuar como o padrão otimizado da atividade produtora e da convivência social, aberto ao aperfeiçoamento, ad infinitum, através da livre iniciativa e da livre concorrência em busca de maiores lucros.
O Cristianismo e o Iluminismo se articulam historicamente como as duas revoluções permanentes, capazes de conduzir a espécie humana a uma condição cada vez mais justa, livre e feliz.    

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