Blog Rocha 100

No princípio, criou Deus os céus e a Terra”. Ótima frase para um Blog que navegará 100 fronteiras: dos céus metafísicos à “rude matéria” terrestre. “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. Pois, somos também deuses, e criadores. Podemos, principalmente, criar a nossa própria vida, com autonomia: isto se chama Liberdade. Vida e Liberdade são de Deus. Mas, quem é “Deus”? Devotos hebreus muito antigos, referiam-se a Ele apenas por perífrases de perífrases. Para Anselmo de Bec, Ele é “O Ser do qual não se pode pensar nada maior”. Rudolf Otto, diante da dificuldade de conceituá-Lo, o fez precisamente por essa dificuldade; chamou-O “das Ganz Andere” (o Totalmente Outro). Há um sem número de conceitos de Deus. Porém, o que mais soube ao meu coração foi este: “O bem que sentimos intimamente, que intuímos e que nos faz sofrer toda vez que nos afastamos dele”. É de uma jovem filósofa: Catarina Rochamonte.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

A Festa 100, ROCHA 100 - Revista 100 Fronteiras, a Democracia e a Liberdade

Sábado próximo, 23 de fevereiro, no Quiosque Nº 1 do Arruda, no Bessa, a partir das 11 horas da manhã e pela tarde toda, teremos a FESTA 100, lançamento em João Pessoa-PB da

ROCHA 100 - Revista 100 Fronteiras

Romeu e Cláudia Carvalho farão uma especial apresentação de Voz e Violão, com músicas do cancioneiro nacional e internacional, mas, especialmente, com composições do paraibano Assis de Carvalho. Acompanhados pelo grande tecladista Beto, Manoel von Sohsten e Gilberto entoarão canções românticas nostálgicas, daqueles tempos que não voltam mais. Vários artistas e intelectuais, estudantes e operários, poetas e ciganos, ocultistas e profetas, políticos e aventureiros, capitalistas e boêmios, crianças e velhos, moças e rapazes, todos os sonhadores e até alienígenas extraterrestres garantiram presença, e que farão performances (uma palhinha). Haverá também o sorteio de 10 cestas de prêmios, cada uma contendo 10 prêmios. 10 X 10 = 100. A Festa 100 será a maior do século (que também se diz "centúria").

ROCHA 100 - Revista 100 Fronteiras já foi lançada, com extraordinário sucesso, em Pernambuco, no Clube dos Maçons/Paulista-PE. Lançamentos em outros estados estão sendo programados e serão anunciados oportunamente. 

Contamos com a presença de todos na FESTA 100 deste sábado. E pedimos a todos que a divulguem, que convidem, que tragam gente.

Sobre os propósitos e linha editorial da ROCHA 100 - Revista 100 Fronteiras, tudo está dito no editorial, que transcrevemos abaixo.




Editorial 100

O primeiro editorial da ROCHA 100 – Revista 100 Fronteiras haverá de ser uma afirmação de princípio, e a fazemos em uma palavra: LIBERDADE!

Sob a égide da Liberdade, afirmamos a Democracia e a Igualdade; pois a Democracia é, precisamente, a política construtora da Igualdade possível entre pessoas livres.

A Democracia é um regime de contrato em que as liberdades, que são os indivíduos, elevam sobre si um Estado, para evitar que uns indivíduos exorbitem sobre outros; porém, este mesmo Estado, para que não exorbite em seu poder, deve ser controlado pelo poder originário e Soberano, estabelecidas as formas de controle no contrato mesmo do Estado. Diga-se: o poder originário na Democracia são os indivíduos, ou seja, as Liberdades; e a finalidade maior do contrato democrático é a mesma LIBERDADE, como já compreendido e exposto por Immanuel Kant:

A finalidade do Estado é a Liberdade garantida pelo direito”.

A consciência democrática abomina a coletivização, que é a igualdade imposta pelas tiranias, como os donos de porcos coletivizam seus porcos em pocilgas miseráveis ou, mais ou menos, confortáveis.

Sem embargo, a Democracia tem conseguido construir o bem estar dos seus cidadãos sem abrir mão da Liberdade, com o que deixaria de ser Democracia. E, mercê de Deus, seguirá nesse caminho, que é sem fim previsto, mas num círculo virtuoso, sempre para melhor.

A luta democrática será constante e incansável; e nesse sentido ROCHA 100 presta, nesta sua edição inaugural, especial Homenagem a um desses lutadores incansáveis da Democracia, o Desembargador, Grão Mestre Maçônico e Conde de Orkney Manuel Alves da Rocha. Luta esta realizada pelo Brasil afora e fora do Brasil.

Com efeito, o Dr. Manuel tem travado seguidas batalhas em defesa dos ideais democráticos universais e da Soberania Nacional Brasileira, verberando muito especialmente contra a corrupção que se alastra e corrói a Nação; bem como contra a insídia de estrangeiros que tentam defraudar o Brasil com a internacionalização da Amazônia.

ROCHA 100, sendo 100 Fronteiras, estará sempre aberta a todas as opiniões, vindas de onde vierem, acolhendo-as, díspares que sejam, sem preconceitos, afirmando-se como espaço das diversidades e do livre debate. ROCHA 100 reivindica a tão difundida máxima de Virgílio: E pluribus unum (De todos, um), no sentido democrático consagrado de Unidade na Diversidade. E também faz sua aquela máxima de Terêncio, que foi a preferida de Karl Marx: “Nihil humani a me alienum puto” (Nada do que é humano me é estranho). E ainda mais porque, se alienígenas extraterrestres, inteligências não humanas, quisessem, porventura, aqui se expressar, teriam (ou terão) seu espaço assegurado.

Como corolário desse editorial, publicamos a magnífica Ode à Liberdade, do Filósofo Iremar Bronzeado.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Epicuro, Schopenhauer, Nietzsche, Mencken, Machado de Assis, Buñuel, Alfredo Machinho e os ateus melindrosos

Eu detesto o ateísmo; todavia, muitos ateus me são simpáticos. O velho Epicuro, por exemplo, tão difamado pelos estoicos, era, na minha apreciação, excelente criatura. A sua tirada em relação à existência ou não dos deuses é ótima: "Os deuses existem sim, mas não se importam com os homens; então, o melhor que os homens podem fazer é não se importar com eles". Seguramente, Epicuro não acreditava na existência dos deuses, apenas não queria perder tempo com conversa vazia e, pragmático, entendia que não crer nos deuses ou não se importar com eles resultava no  mesmo. Também para a  morte tem uma resposta sagaz: "Não há morte, pois, quando existimos não existe morte, e quando existe a morte não existimos mais". Não concordo, não porque eu acredite na morte, mas porque acredito na Vida Eterna; mas, nem por discordar, deixo de admirar o filósofo. Levou uma boa vida, o afável Epicuro; e, apesar de ensinar que o prazer é a finalidade da vida, levou vida frugal.

Os ateus Schopenhauer e Nietzsche me são simpáticos, ainda que eu considere a metafísica da vontade por eles postulada (com conclusões morais opostas e igualmente desastrosas) muito ruim. Embora sisudos, eram irreverentes, e eu tenho grande simpatia pela irreverência. Talvez me sejam simpáticos porque, mesmo ateus, não são materialistas; sendo que considero o materialismo a mais rasa e indigente das filosofias. Nietzsche, o mais genial de todos os loucos, levou sua rebeldia ao ponto de decretar a morte de Deus e proclamar-se como o Anti-Cristo. Eu sou cristão, mas tenho quase devoção por Nietzsche e o considero como uma espécie de santo.

São inúmeros, os simpáticos ateus de antigamente. Citemos apenas mais quatro.

H. L. Mencken foi um ateu libertário, iconoclasta, chamado por alguns de "Nietzsche americano". Seu livro mais conhecido é, vejam só, "O Livro dos Insultos". De todas as religiões, usando eu uma expressão de Machado de Assis, Mencken "disse o que Maomé não disse da carne de porco". Mencken não apenas insultou Deus, insultou também o povo e a democracia. Vejam essa: "A democracia é a arte e a ciência de administrar o circo a partir da jaula dos macacos". Eu defendo o povo e a democracia, mas o referido livro de Mencken é um dos meus livros de cabeceira.

E chegamos a Machado de Assis, cujo livro mais marcadamente ateísta, "Memórias Póstumas de Brás Cubas", já reli pra mais de cem vezes. Machado, influenciado pelo pessimismo de Schopenhauer, expõe o ateísmo mais amargo: "Não transmiti a ninguém o legado da nossa miséria". É compreensível que ateus sejam amargos. E é quase imperativo que sejam irreverentes. Vejam, Machado, no "Brás Cubas", não poupou nem o mestre Schopenhauer, retratando-o como o doido Quincas Borba. Machado de Assis era ateu, e eu tenho quase veneração por Machado de Assis.  

 Vamos ao cineasta espanhol Luis Buñuel. Este era um ateu anarquista dos mais irreverentes. No seu delicioso livro de memórias, "Meu Último Suspiro", conta várias de suas irreverências, dentre as quais ter, em uma mesa de bar, tentado esganar a mulher do amigo Salvador Dali, a chatíssima Gala. E outra que conta é a seguinte: ajudando a causa da República na Guerra Civil espanhola, Buñuel recebeu missão de ir a Paris, mas os defensores da República eram tão desorganizados e desunidos (os stalinistas, por exemplo, matavam tanto franquistas como anarquistas e trotskistas) que os anarquistas não quiseram aceitar o salvo conduto de Buñuel, fornecido por autoridade da República - os anarquista exigiam um visto anarquista específico -. Aí Buñuel perdeu as estribeiras e elevou a voz em imprecações, desaforos e blasfêmias contra Deus e o mundo. Quando o anarquista responsável pela permissão de passagem ouviu aquelas abominações, não teve  mais dúvidas: "Deixem passar, esse é dos nossos".

E chego a um ateu paraibano, amigo meu já falecido, Alfredo Machinho (assim chamado porque era baixinho e muito corajoso: consta que peitou e bateu revólver na cara do poderoso senador Assis Chateaubriand, num episódio da campanha "O Petróleo É Nosso"; mas isso é outra, e comprida, história). Ateu e comunista, comunista da linha dura, bolchevista ortodoxo, Alfredo era irreverente e dizia da Virgem Maria coisas horríveis e impublicáveis. Porém, sobre Deus, ele dizia uma coisa tão engraçada que não posso deixar de publicar, nem acho que Deus vá se ofender. Alfredo Machinho chamava Deus de "o invertebrado gasoso".

Vejam vocês como eram os ateus de antigamente. Hoje não; hoje os ateus são delicados e melindrosos, com pudores de moças donzelas. Hoje, os ateus são muito bem comportados e se guiam pela cartilha do "politicamente correto". Não aceitam de ninguém qualquer irreverência. Ai de quem falar mal um tantinho assim do ateísmo. Os ateus de hoje perseguem, processam, multam e querem por na cadeia quem ouse insinuar em relação a eles qualquer atitude menos correta e edificante.

O autoritarismo "politicamente correto", no qual se apóia a intolerância ateísta, teve início nos Estados Unidos, mas no Brasil tem encontrado terra fértil. Ateus brasileiros moveram processo contra a Rede TV. Também moveram processo contra o apresentador José Luiz Datena e a TV Bandeirantes; isso porque o desavisado Datena, no seu programa na Band, escorregou em uma irreverências em relação aos ateus. Os ateus brasileiros estão movendo processos a torto e a direito.

Eu mesmo, com esse artigo, sei lá se não vou ser processado?

Certamente, estarei sendo injusto ao generalizar. Fui ao Google ver a lista de ateus famosos e vi muitos ateus de hoje que são excelentes pessoas; irreverentes uns, tolerantes outros. Mas os ateus "politicamente corretos" de hoje, intolerantes, estão dando o tom do debate: militam pela causa, reclamam de Deus (tá certo) e do  mundo, dizem-se vítimas, fazem campanha para arrancar os crucifixos das paredes e não estão longe de mandar implodir o Cristo Redentor.

O ateísmo militante, autoritário, intolerante, não está pra brincadeira.

Seja como for, como cheguei até aqui, vou arriscar um último e irreverente parágrafo:

O ateu irreverente tem a sua graça. Agora, ateu melindroso é uma merda.