Blog Rocha 100

No princípio, criou Deus os céus e a Terra”. Ótima frase para um Blog que navegará 100 fronteiras: dos céus metafísicos à “rude matéria” terrestre. “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. Pois, somos também deuses, e criadores. Podemos, principalmente, criar a nossa própria vida, com autonomia: isto se chama Liberdade. Vida e Liberdade são de Deus. Mas, quem é “Deus”? Devotos hebreus muito antigos, referiam-se a Ele apenas por perífrases de perífrases. Para Anselmo de Bec, Ele é “O Ser do qual não se pode pensar nada maior”. Rudolf Otto, diante da dificuldade de conceituá-Lo, o fez precisamente por essa dificuldade; chamou-O “das Ganz Andere” (o Totalmente Outro). Há um sem número de conceitos de Deus. Porém, o que mais soube ao meu coração foi este: “O bem que sentimos intimamente, que intuímos e que nos faz sofrer toda vez que nos afastamos dele”. É de uma jovem filósofa: Catarina Rochamonte.

domingo, 30 de dezembro de 2012

Ricardo Coutinho vai por mau caminho, rumo ao impeachment. Mas, estando no meio da viagem, tem tempo de refletir e reencontrar o bom caminho. Como encorajamento para reflexão, versos de Dante Alighieri

O enfrentamento entre o governador Ricardo Coutinho e a maioria dos deputados estaduais já começa a ter repercussão nacional. Na sua coluna de 30/12/2012, o jornalista Cláudio Humberto, um dos mais lidos e respeitados do Brasil, deu uma nota tão curta quanto preocupante. Preocupante, principalmente, para o governador. Vejam:

"30/12/2012/00:00
Guerra paraibana
É feio o confronto do governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), com a Assembléia Legislativa. Ele disse que não vai ficar de joelhos e os deputados já falam até em impeachment".

Aqui na Paraíba, essa conversa do impeachment de Ricardo vem desde o começo de 2012. O governador sempre teve um relacionamento difícil com os deputados. E não só com os deputados, pois acumulou desafetos em todas as categorias, especialmente entre o funcionalismo estadual, categoria que tem perseguido com especial esmero. Não é sem razão que o arguto Gilvan Freire, ex-aliado de Ricardo, o classifica como "inafetivo".

A base de sustentação de Ricardo na AL sempre foi precária. Agora, passou a quase nada. Como se viu na última votação de grande interesse do governador, a da mudança do Regimento Interno da AL, a derrota de Sua Excelência foi humilhante: 30 a 6. Isso mesmo, dos 36 deputados que compõem a Casa do Povo, o governador conta com apenas uma mísera meia-dúzia. É bem verdade que a tropa governista está à espera de algum reforço. Os suplentes que assumem no lugar dos prefeitos eleitos Luciano Cartaxo e André Gadelha, parece que já foram cooptados pelo Palácio da Redenção. Tem também o deputado Gervásio Maia, do oposicionista PMDB, recebido com pompa pelo governador na Granja Santana. Gervasinho está, como diria o saudoso Leonel Brizola, "costeando o alambrado".

6 + 3 = 9. É ainda muito pouco. Em suma, pela contabilidade de hoje, a oposição, em sendo o caso de aparecer algum motivo, tem maioria qualificada para proceder ao impeachment do governador. E a questão é exatamente esta: há motivo para o impeachment de Ricardo? Não se pode apear um governador do poder sem motivo. Sabe-se que correm na Justiça alguns processos que podem atingir Ricardo Coutinho. Se ele for inocentado em todos, ficará no poder até o fim do mandato, por mais minoritário que esteja na Assembleia. Caso contrário, o processo de impeachment correrá célere, mais rápido ainda do que o do Presidente Collor de Melo.

Será mera coincidência que o temperamento de Ricardo Vieira Coutinho semelhe ao de Fernando Collor de Melo, mas como se parecem: corajosos, audaciosos, arrogantes, vaidosos, autoritários, truculentos. Collor foi por mau caminho. Ricardo vai por mau caminho. Nesse episódio da mudança do Regimento da ALPB, por exemplo, Ricardo insultou o Poder Legislativo de forma grosseira, e ainda por cima demonstrando grande ignorância quanto à natureza das instituições democráticas. Vejam o que, referindo-se aos deputados, disse Sua Excelência:

"...aqueles outros que acham que governar é simplesmente fazer um balcão de negócios..."; "O povo é muito mais do que 20 ou 30 pessoas que se reúnem em um restaurante para poder achar que são donos da verdade e falam em nome do povo".

Ora, os deputados falam e legislam em nome do povo por representação; representação esta adquirida em eleições democráticas. Da mesma forma que a representação legislativa, também a representação executiva do governador depende do Poder Originário: O POVO. Que os deputados paraibanos se considerem donos da verdade, não tenho notado. Já Ricardo, sem dúvida, considera-se dono da verdade.

Certamente, o Povo é maior do que quaisquer dos seus representantes; e pode, por via legal, destituí-los (também por via revolucionária, mas isso é outra história). Essas falas de Ricardo, registradas na mídia local, há cerca de uma semana, foram arrematadas de maneira curiosa. Vejam:

"Ninguém pode ultrapassar seus limites e no meu ver a Assembleia ultrapassou".

Ele se referia à mudança do regimento da ALPB. Ora bolas, porque cargas d'água os legisladores estaduais estariam ultrapassando os seus limites ao legislar sobre o seu próprio regimento? Quem, na sua prepotência sem fim, tem ultrapassado seus limites é o governador Ricardo Coutinho.

O governador paraibano vai por mau caminho. Tem volta? Claro que tem. E tem tempo: está a meio do caminho. Aliás, metade do caminho é um excelente tempo para reflexão. Podemos mesmo adiantar um sinal positivo: no momento em que a postura beligerante do governador era secundada por alguns dos seus escudeiros desatinados, a recém nomeada secretária de Comunicação, Estelizabel Bezerra, a Estela, veio a público com declarações as mais sensatas, tentando desarmar os espíritos.

Como Ricardo sozinho já briga muito, ajudaria a si mesmo se proibisse seus girassóis mais afoitos de estar insultando a torto e a direito. Que ele deixe a comunicação apenas a cargo da secretária de Comunicação. Estela dá conta do recado.

Se refletir, se ponderar, Ricardo Coutinho poderá não só recompor sua base política como recuperar as simpatias do eleitorado, que, como se viu pela derrota em João Pessoa, vem perdendo; mas não perdeu tanto quanto se pensava. E assim pode se reeleger. Se continuar no caminho que vai, na passada que vai, antes do fim do ano de 2013 estará fora do governo, cassado e inelegível.

Por mais que tenha criticado o governador Ricardo Coutinho, não lhe quero mal. Pelo contrário, lembro que no seu primeiro mandato de prefeito da capital foi um dos melhores da nossa história; e torço para que o mau governador de hoje se espelhe no bom prefeito que foi. Creio que sua prepotência saiu de controle e o fez perder-se em uma "selva escura". Espero que o governador de todos os paraibanos saia da sua "selva escura", e lhe envio, como forma de encorajamento para reflexão, os primeiros versos da primeira parte da "Divina Comédia", "Inferno", quando, a meio do caminho da vida, Dante Alighieri deu consigo numa selva escura porque o caminho verdadeiro fora perdido.

"Nel mezzo del cammin di nostra vita
Mi ritrovai per una selva oscura
Ché la diritta via era smarrita"  

Espero que Ricardo Coutinho se reencontre, que reencontre o verdadeiro e bom caminho.

 



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