Blog Rocha 100

No princípio, criou Deus os céus e a Terra”. Ótima frase para um Blog que navegará 100 fronteiras: dos céus metafísicos à “rude matéria” terrestre. “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. Pois, somos também deuses, e criadores. Podemos, principalmente, criar a nossa própria vida, com autonomia: isto se chama Liberdade. Vida e Liberdade são de Deus. Mas, quem é “Deus”? Devotos hebreus muito antigos, referiam-se a Ele apenas por perífrases de perífrases. Para Anselmo de Bec, Ele é “O Ser do qual não se pode pensar nada maior”. Rudolf Otto, diante da dificuldade de conceituá-Lo, o fez precisamente por essa dificuldade; chamou-O “das Ganz Andere” (o Totalmente Outro). Há um sem número de conceitos de Deus. Porém, o que mais soube ao meu coração foi este: “O bem que sentimos intimamente, que intuímos e que nos faz sofrer toda vez que nos afastamos dele”. É de uma jovem filósofa: Catarina Rochamonte.

domingo, 30 de dezembro de 2012

Ricardo Coutinho vai por mau caminho, rumo ao impeachment. Mas, estando no meio da viagem, tem tempo de refletir e reencontrar o bom caminho. Como encorajamento para reflexão, versos de Dante Alighieri

O enfrentamento entre o governador Ricardo Coutinho e a maioria dos deputados estaduais já começa a ter repercussão nacional. Na sua coluna de 30/12/2012, o jornalista Cláudio Humberto, um dos mais lidos e respeitados do Brasil, deu uma nota tão curta quanto preocupante. Preocupante, principalmente, para o governador. Vejam:

"30/12/2012/00:00
Guerra paraibana
É feio o confronto do governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), com a Assembléia Legislativa. Ele disse que não vai ficar de joelhos e os deputados já falam até em impeachment".

Aqui na Paraíba, essa conversa do impeachment de Ricardo vem desde o começo de 2012. O governador sempre teve um relacionamento difícil com os deputados. E não só com os deputados, pois acumulou desafetos em todas as categorias, especialmente entre o funcionalismo estadual, categoria que tem perseguido com especial esmero. Não é sem razão que o arguto Gilvan Freire, ex-aliado de Ricardo, o classifica como "inafetivo".

A base de sustentação de Ricardo na AL sempre foi precária. Agora, passou a quase nada. Como se viu na última votação de grande interesse do governador, a da mudança do Regimento Interno da AL, a derrota de Sua Excelência foi humilhante: 30 a 6. Isso mesmo, dos 36 deputados que compõem a Casa do Povo, o governador conta com apenas uma mísera meia-dúzia. É bem verdade que a tropa governista está à espera de algum reforço. Os suplentes que assumem no lugar dos prefeitos eleitos Luciano Cartaxo e André Gadelha, parece que já foram cooptados pelo Palácio da Redenção. Tem também o deputado Gervásio Maia, do oposicionista PMDB, recebido com pompa pelo governador na Granja Santana. Gervasinho está, como diria o saudoso Leonel Brizola, "costeando o alambrado".

6 + 3 = 9. É ainda muito pouco. Em suma, pela contabilidade de hoje, a oposição, em sendo o caso de aparecer algum motivo, tem maioria qualificada para proceder ao impeachment do governador. E a questão é exatamente esta: há motivo para o impeachment de Ricardo? Não se pode apear um governador do poder sem motivo. Sabe-se que correm na Justiça alguns processos que podem atingir Ricardo Coutinho. Se ele for inocentado em todos, ficará no poder até o fim do mandato, por mais minoritário que esteja na Assembleia. Caso contrário, o processo de impeachment correrá célere, mais rápido ainda do que o do Presidente Collor de Melo.

Será mera coincidência que o temperamento de Ricardo Vieira Coutinho semelhe ao de Fernando Collor de Melo, mas como se parecem: corajosos, audaciosos, arrogantes, vaidosos, autoritários, truculentos. Collor foi por mau caminho. Ricardo vai por mau caminho. Nesse episódio da mudança do Regimento da ALPB, por exemplo, Ricardo insultou o Poder Legislativo de forma grosseira, e ainda por cima demonstrando grande ignorância quanto à natureza das instituições democráticas. Vejam o que, referindo-se aos deputados, disse Sua Excelência:

"...aqueles outros que acham que governar é simplesmente fazer um balcão de negócios..."; "O povo é muito mais do que 20 ou 30 pessoas que se reúnem em um restaurante para poder achar que são donos da verdade e falam em nome do povo".

Ora, os deputados falam e legislam em nome do povo por representação; representação esta adquirida em eleições democráticas. Da mesma forma que a representação legislativa, também a representação executiva do governador depende do Poder Originário: O POVO. Que os deputados paraibanos se considerem donos da verdade, não tenho notado. Já Ricardo, sem dúvida, considera-se dono da verdade.

Certamente, o Povo é maior do que quaisquer dos seus representantes; e pode, por via legal, destituí-los (também por via revolucionária, mas isso é outra história). Essas falas de Ricardo, registradas na mídia local, há cerca de uma semana, foram arrematadas de maneira curiosa. Vejam:

"Ninguém pode ultrapassar seus limites e no meu ver a Assembleia ultrapassou".

Ele se referia à mudança do regimento da ALPB. Ora bolas, porque cargas d'água os legisladores estaduais estariam ultrapassando os seus limites ao legislar sobre o seu próprio regimento? Quem, na sua prepotência sem fim, tem ultrapassado seus limites é o governador Ricardo Coutinho.

O governador paraibano vai por mau caminho. Tem volta? Claro que tem. E tem tempo: está a meio do caminho. Aliás, metade do caminho é um excelente tempo para reflexão. Podemos mesmo adiantar um sinal positivo: no momento em que a postura beligerante do governador era secundada por alguns dos seus escudeiros desatinados, a recém nomeada secretária de Comunicação, Estelizabel Bezerra, a Estela, veio a público com declarações as mais sensatas, tentando desarmar os espíritos.

Como Ricardo sozinho já briga muito, ajudaria a si mesmo se proibisse seus girassóis mais afoitos de estar insultando a torto e a direito. Que ele deixe a comunicação apenas a cargo da secretária de Comunicação. Estela dá conta do recado.

Se refletir, se ponderar, Ricardo Coutinho poderá não só recompor sua base política como recuperar as simpatias do eleitorado, que, como se viu pela derrota em João Pessoa, vem perdendo; mas não perdeu tanto quanto se pensava. E assim pode se reeleger. Se continuar no caminho que vai, na passada que vai, antes do fim do ano de 2013 estará fora do governo, cassado e inelegível.

Por mais que tenha criticado o governador Ricardo Coutinho, não lhe quero mal. Pelo contrário, lembro que no seu primeiro mandato de prefeito da capital foi um dos melhores da nossa história; e torço para que o mau governador de hoje se espelhe no bom prefeito que foi. Creio que sua prepotência saiu de controle e o fez perder-se em uma "selva escura". Espero que o governador de todos os paraibanos saia da sua "selva escura", e lhe envio, como forma de encorajamento para reflexão, os primeiros versos da primeira parte da "Divina Comédia", "Inferno", quando, a meio do caminho da vida, Dante Alighieri deu consigo numa selva escura porque o caminho verdadeiro fora perdido.

"Nel mezzo del cammin di nostra vita
Mi ritrovai per una selva oscura
Ché la diritta via era smarrita"  

Espero que Ricardo Coutinho se reencontre, que reencontre o verdadeiro e bom caminho.

 



quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Entrevista com Flávio Eduardo Maroja Ribeiro, vereador eleito (PT) de Jampa Capital: o Mestre Fuba, das Muriçocas do Miramar




ROCHA 100 - Pela sua identificação com a vida cultural de João Pessoa, vai usar o seu cargo de vereador, prioritariamente em função de projetos culturais?
Fuba – Como produtor e agente cultural que sou, a minha atuação em defesa da cultura já faz parte de minha própria vida e está inserida em meu cotidiano. É necessário entender o papel de um vereador como deflagrador da atividade jurisdicional.  Um parlamentar tem que ter uma visão macro sobre os problemas da cidade e não apenas se limitar a um único seguimento. Evidentemente darei minha contribuição no que for preciso para melhorar e qualificar a nossa cultura, mas não poderei deixar de olhar, fiscalizar e propor alternativas convincentes para melhoria de nossa população em todas as áreas do município.

ROCHA 100 - Pode adiantar alguns dos seus projetos? 
Fuba – Por motivos óbvios e de sigilo de planejamento, ainda é cedo para adiantar os projetos que apresentaremos na Câmara, mas posso garantir que todas as matérias serão debatidas profundamente com a sociedade até chegar à condição de Lei.

ROCHA 100 - Acha que o prefeito eleito está especialmente motivado na área cultural?
Fuba – É claro! O que não falta é motivação nesse novo projeto político. Em todas as áreas. Luciano Cartaxo é uma pessoa que acumula uma experiência incontestável e tem o dom da sensibilidade.  Já foi vereador por quatro mandatos, vice governador e deputado estadual. É uma pessoa simples e que sabe escutar.  Como prefeito, não tenho dúvidas que fará uma gestão voltado aos movimentos de massa e em defesa dos menos favorecidos. No nosso programa de governo está previsto  obras estruturantes na área de mobilidade urbana, saúde e educação sem esquecer a valorização do servidor público que é a mola propulsora para uma boa gestão.  Nesse contexto a área cultural é também uma  prioridade já que estamos em visível declínio e é necessário em caráter emergencial resgatar  a nossa auto estima que só é possível com a fomentação da cultura e do resgate da nossa história. Algumas idéias estão em curso, mas só serão divulgadas após o relatório final da equipe de transição e a conseqüente radiografia dos pontos críticos a serem analisados.

ROCHA 100 - Além da cultura, que é, digamos assim, a  menina dos seus olhos, que outras áreas de atuação lhe são preferenciais?
Fuba – Não posso preferenciar áreas de atuação, mas, além da cultura, me identifico muito com os movimentos sociais, a defesa do meio ambiente, o turismo sustentável e o bem estar da sociedade, sem preconceitos e descriminalização. João Pessoa é uma cidade que até hoje foi pouco aproveitada como referência cultural. Só o fato de sermos privilegiados geograficamente já seria motivo suficiente para darmos um salto qualitativo na área do turismo, por exemplo.  É inconcebível que a terceira capital mais antiga do Brasil não tenha tido ainda a capacidade de revitalizar o seu Centro Histórico. É necessário pensar grande para que deixe fluir todas as possibilidades. É nesse contexto que faremos o nosso mandato, dialogando com todos os movimentos e manifestações da sociedade.

ROCHA 100 - No último ano de Ricardo Coutinho como prefeito a FUNJOPE vetou o projeto de WJ Solha para a peça "A PAIXÃO JUDAICA". Esse magnífico projeto já havia sido aprovado, mas voltou-se atrás por motivos político-eleitorais. Há perigo de tal procedimento ocorrer na gestão de Luciano Cartaxo. Ou seja, pode a nova administração municipal impor uma gestão cultural político-partidarizada? 
Fuba – Pela primeira vez João Pessoa terá oportunidade de ser governada pelo PT e se existe um diferencial nesse partido, posso garantir que é a tal da democracia. O prefeito Luciano Cartaxo nunca foi de perseguir e espero que continue assim. Se um dia mudar serei o primeiro a discordar.  Essa política pobre e mesquinha não faz parte de sua índole e creio que a partir de agora, todas as bandeiras serão desasteadas para dar vez à pluralidade, a democracia e ao diálogo. A ditadura cultural e o patrulhamento ideológico não farão parte desse governo.  É nessa perspectiva que vejo um novo tempo a ser construído e Luciano já provou que tem capacidade de aglutinar através do diálogo e da compreensão.

ROCHA 100 - A FUNJOPE, como principal órgão de gestão cultural da PMJP, pode promover a cultura pessoense, mas pode também atrasá-la; pode elevá-la ou degradá-la; pode ajudar a liberar a imensa criatividade de nossa gente, mas pode também tentar controlar, manipular e abafar essa criatividade. Você, como intelectual engajado, propõe algum modelo de gestão, talvez um nome, adequado ao clima de liberdade, á pluralidade que o fazer artístico requer? 
Fuba – A meu ver o nome que deverá compor a FUNJOPE tem que ter o perfil técnico e manter uma boa relação com os artistas e a história de nossa cidade.  Não poderá simplesmente ser um cargo político. Tem que ter compromisso com o seguimento e fazer assumir o seu verdadeiro papel de fundação, captar recursos e inserir projetos que fomentem os setores relacionados. Cultura não se resume a shows, exposições, artesanato, artes cênicas ou eventos multimídias. Na cultura da gastronomia, por exemplo, a forma de se amarrar uma corda de caranguejo é altamente cultural assim como o nosso “rolete de cana” que tem uma semelhança muito grande com um buquê de flores e é típico da Paraíba.  Isso também é cultura! A cultura do sotaque e do comportamento é essencial na preservação de nossa história.  Da mesma forma, tem que se garantir um espaço maior a cultura popular como forma de repassar para as futuras gerações as suas tradições.   Provocar esse debate, fomentar projetos e oficinas na periferia, descentralizar ações e desburocratizar os serviços, talvez seja a melhor forma de pluralizar e divulgar a cultura do nosso povo fazendo chegar essas manifestações a um contingente maior e bem mais expressivo. Para isso é necessário criar conceitos e critérios, implantar o Conselho Municipal de Cultura, reestruturar o FMC e distribuir democraticamente os espaços aos artistas priorizando, por uma questão de justiça, os que atuam e sobrevivem exclusivamente de suas artes.

ROCHA 100 - Você é artista, escritor e político. Pois, um dos maiores artistas da Paraíba, do Brasil e do mundo, o pintor Flávio Tavares, gênio da raça, disputa na Academia Paraibana de Letras a vaga de Ronaldo Cunha Lima. Já o escritor-historiador Marcus Odilon, mais conhecido como político, disputa a vaga de Joacil de Brito Pereira. O que acha dessas candidaturas?  
Fuba – Concordo com os dois nomes citados. Admiro muito o trabalho vanguardista de Flávio Tavares assim como a literatura intelectualizada de Marcos Odilon. São, sem dúvidas, dois ícones que devem ser reconhecidos e imortalizados pela APL.

ROCHA 100 - Última pergunta: está bem perto a eleição para Presidente da Câmara Municipal de João Pessoa. Quem é seu candidato?
Fuba – É tempo de se unir. O fato de termos uma larga vantagem de parlamentares na base de sustentação não quer dizer que devamos entrar numa disputa interna colocando em risco essa unidade. Durval Ferreira conseguiu construir essa maioria com habilidade. Além disso, ele representa o PP, primeiro partido que apoiou e acreditou no nosso projeto. Por essa razão não vejo alternativa de mudança capaz de influenciar os vereadores no consenso de outro nome.

João Pessoa, 19/12/2012.




domingo, 16 de dezembro de 2012

"Poder, Alegria dos Homens": um livro afrodisíaco


"Poder, Alegria dos Homens":
um livro afrodisíaco

por Washington Rocha

O grande Ulisses Guimarães, pai de Nova República, dizia: “O poder é afrodisíaco”. O poderoso Henry Kissinger também: “O Poder é o afrodisíaco mais forte”; e ainda: “O poder é o último afrodisíaco”. Na verdade, esse é um conhecimento velho como o mundo. Sendo que Ulisses viveu até longa idade, muito terá feito uso dessa versão imemorial do viagra. Kissinger, aos 89 anos, continua ativo intelectual e amorosamente. O ex-primeiro ministro italiano Sílvio Berlusconi, de 76 anos, está com uma namorada de 27; e está preparando sua volta ao cargo: aí, arranja uma de 17.

Desde sempre, os homens lutaram pelo poder; só alguns poucos atingiram seus cumes, e estão na história.

O primeiro livro publicado por Marcus Odilon Ribeiro Coutinho trata disso: o Poder. O feliz título, adaptado de uma peça sacra – a celebérrima cantata “Jesus, Alegria dos Homens”, de Johann Sebastian Bach –, traz para a profana sensualidade aquilo que no mestre alemão era alegria mística. Com efeito, o poder é a mais profana das alegrias. Tal alegria foi exaltada pelo filósofo, autodeclarado Anticristo, Friedrich Nietzsche, que se refere à “glória e prazer de mandar”.

Já nas epígrafes do livro de Marcus Odilon, consta um paraibano famoso pela obsessão por poder e sexo: Assis Chateaubriand. Vejam:

O poder engana e atormenta.
É doce como sapotí, dá mais
fôrça do que mão de vaca e
mais alegria do que cana de
cabeça”.

Para quem não sabe, “mão de vaca” é uma deliciosa iguaria sertaneja, um pirão com tutano, comida de muita 'sustança' feita com as patas dianteiras da vaca. Um santo remédio, afrodisíaco poderoso que levanta até defunto.

Como viram, a epígrafe de Chateaubriand está em grafia antiga. O livro foi publicado (Gráfica A Imprensa – João Pessoa-PB) no distante ano de 1965. O autor, apesar de muito jovem, já tinha algum poder: era prefeito em Juarez Távora. E tinha, o que nunca lhe abandonou: a ambição sincera e confessada, o gosto, o prazer, a voluptuosidade do poder. 

Sem que o poder seja uma paixão, uma espécie de vício, considera o autor que é melhor que se abandone o ofício da política, que não é coisa para inapetentes. A páginas tantas, Marcus Odilon lança mão de um ditado popular (e usará muitos outros ao longo do livro, confessando seu apego à sabedoria de Mestre Povo): “O diabo leve o Poder que não pode”. Daquele Diocleciano, imperador romano que deixou o trono para se dedicar ao cultivo de hortaliças, diz, jocosamente: “grande vocação de verdureiro”.

No livro de Marcus as citações históricas são recorrentes – e são precisas –, erudição surpreendente em uma autor tão jovem. Se a história universal serve de pano de fundo, a política da Paraíba daquela época, meados do séc. XX, é observada nos detalhes, com um exato foco: a luta pelo poder (o período exato de enfoque está dito no livro: “A Paraíba, na nossa observação, inicia-se em 1930 e termina em nossos dias”).

Se a Paraíba é o quadro, a Idéia que o anima é o Poder, sempre grafado por Marcus Odilon com inicial maiúscula. Enfatiza o autor: “A nossa intenção não é definir, é exaltar o Poder”. A sua inspiração é inequivocamente Maquiavel: a ação política se justifica pela procura do bem coletivo, o qual não se pode promover sem ter alcançado o poder; então, antes de tudo, é preciso agir para alcançar e manter o poder. Ou seja: em política, feio mesmo é perder. Nas suas palavras:

Não só Cícero, mas todo político, em qualquer tempo, ambiciona o mando, com todas as suas fôrças; ódio, o amor, inveja e dever […] só no exercício do govêrno é que se pode levar o bem ao povo […] Só o inerte, o que pensa só em si, não faz nada. Não move as rodas da história. É muito difícil chegar ao Poder. Quando o tem é por herança e mesmo assim não o conserva. Luiz XVI é um desses casos. Terminou não só sem a corôa na cabeça, mas sem a cabeça no corpo” […] Daí se conclui e é elementar que, para ter o Poder, é preciso querê-lo sobre todas as coisas. Obsessão pelo mando. Sensualizar-se com o govêrno, isto sim”.

Da importância do livro inaugural de Marcus Odilon para a historiografia, não precisa que eu fale, outros já o fizeram; inclusive aquele mestre maior da intelectualidade da época, Virgínius da Gama e Melo, no extenso e excelente prefácio com que enriquece o livro do jovem companheiro de literatura. Cito algumas passagens:

Livro que se inscreve antecipadamente ao debate é este volume de Marcus Odilon Ribeiro Coutinho […] Por isso a crônica de Marcus Odilon Ribeiro Coutinho interessará a todos os círculos políticos do país, inclusive seus estudiosos e teóricos de sociologia política e digamos duma possível antropologia política […] As personagens de Marcus Odilon Ribeiro Coutinho – fala-se de personagens, pois que, se de existência histórica, neste livro, de tão vivas que se apresentam, parecem coloridas dessa humanidade além que é a ficção. Não houvesse ainda a grande personagem do livro – o poder – objetivo das personagens secundárias e objeto da obra – sempre o elemento polarizador da alma humana, fonte e “alegria dos homens” […] Os líderes paraibanos, mesmo os de âmbito nacional, passam por essa crônica pitoresca, não raro contundente, despidos das vestes que a legenda temporal ou a posição política lhes andou criando para o panorama brasileiro […] Mas é aqui onde entra a sutileza maquiavélica do jovem autor, dissimulando-se em cronista, alegre na severidade, tolerante na condenação, cordial e humana, convicto de que, na província, é onde mais somos todos irmãos”.

Dada a excelência do prefácio de Virgínius, que realça a excelência do livro, o que mais resta a dizer é que “Poder, Alegria dos Homens” está precisando de uma reedição.

Washington Alves da Rocha.

João Pessoa, 16/12/2012.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

O PETRÓLEO NÃO É DELES, O PETRÓLEO É NOSSO! Ato Público em O Sebo Cultural mobiliza artistas, intelectuais, advogados, jornalistas, professores, estudantes, operários, políticos e poetas; e marca resistência paraibana

O Ato Público pela derrubada do veto presidencial à distribuição dos royalties do petróleo, realizado ontem - 13/12 - em O Sebo Cultural, mobilizou artistas, intelectuais, advogados, jornalistas, professores, estudantes, operários, políticos e poetas. Marcou a resistência da Paraíba. Foi uma beleza.

Alexandre Guedes, advogado e militante dos Direitos Humanos, da OAB-PB, conduziu os trabalhos. Rafael Freire, vice-presidente da Federação Nacional dos Jornalistas - FENAJ, esteve prestigiando o evento na companhia dos também líderes da categoria Cida Melo e Josinaldo Freitas; uníssonos na defesa da justiça distributiva. Radamés Cândido representou o Sindicato dos Trabalhadores da Limpeza Urbana, o que começa a trazer para o palco dessa luta a decisiva classe trabalhadora. O médico, romancista, cantor, poeta-compositor e intelectual militante socialista-católico Romeu de Carvalho explanou sobre a conjuntura política que levou à aprovação da Lei dos Royalties e enfatizou o quão urgente se faz a vigência de tal lei distributiva. Rui Galdino, militante trabalhista histórico, do velho e bravo PDT do Brizola, fez o discurso mais inflamado em defesa do Nordeste, chegando a propor que, a continuar sendo a nossa sofrida região desprezada e defraudada, seria melhor levar em frente a proposta poética de Bráulio Tavares e Ivanildo Vilanova: decretar o NORDESTE INDEPENDENTE. O professor e também poeta Ivaldo Gomes, expoente da luta pela Democracia Participativa, falou sobre a importância dos nordestinos para a grandeza do Brasil, ressaltando que foi a brava gente nordestina que construiu Brasília e alavancou o crescimento de São Paulo. Coube ao intelectual, jornalista e inventor Reginaldo Marinho ponderar sobre a necessidade de manter o Brasil unido: lutar pelo Nordeste, mas não propor divisão.

Por enquanto, adia-se a Guerra de Secessão ("Eita Pau Pereira, que em Princesa já roncou! Eita Paraíba, Mulé Macho, Sim Sinhô!"). Mas, aqui pra nós, essa turma do Cabral, lá do Rio Maravilha, tá de sacanagem e abusando da nossa paciência. Afinal de contas, O PETRÓLEO NÃO É DELES, O PETRÓLEO É NOSSO!

Sendo o petróleo de todos os brasileiros, o veto à justa distribuição foi um esbulho. Derrubá-lo é uma questão de justiça. E também uma questão de vigilância: os representantes dos estados que querem o petróleo só para eles estão enfiados em tenebrosas transações para melar a votação do veto, marcada para esta terça-feira (18/12). Por isso mesmo o nosso combativo vereador Marco Antônio propôs uma VIGÍLIA CÍVICA até lá, até que a distribuição dos royalties do petróleo para todos os estados brasileiros esteja garantida. Essa proposta veio na sequência de um discurso em que Marco Antônio reduziu a pó os argumentos dos que querem a exclusividade dos royalties.

Não será o caso de que eu vá aqui repetir os argumentos do vereador Marco Antônio, mesmo porque não saberia fazê-lo à altura. Então solicito ao próprio que coloque tais argumentos em papel (quer dizer: no computador) e nos envie para publicação.

Registre-se que Marco Antônio é vereador eleito, ainda não assumiu, assume no dia 1º de janeiro. Vale dizer: não assumiu o cargo, mas já assumiu a luta.
Antes de começar, Marco Antônio já começou bem.

VIVA A PARAÍBA! VIVA O NORDESTE! VIVA O BRASIL!

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Heriberto Coelho mobiliza e Ato Público pela derrubada do veto à distribuição dos royalties do petróleo bomba na internet

A iniciativa para realização de Ato Público aqui em Jampa Capital pela derrubada do veto presidencial à Lei dos Royalties - aprovada no Congresso Nacional por ampla maioria - foi deste Portal 100 Fronteiras. Inicialmente, uma convocação tímida e acanhada. Mas a coisa foi pegando e alastrou-se pela net: está, como se diz, bombando. Além da importância dos interesses em disputa, concorreu decisivamente para a alta receptividade da mensagem: 1) que o local de realização seja O Sebo Cultural; 2) que o diretor-presidente de O Sebo Cultural, Heriberto Coelho, tenha atuado na mobilização, ainda que em cima da hora.

 Enquanto sob nossa responsabilidade, a mobilização/divulgação andou, mas andou devagar, feito uma tartaruga cívica. Bastou uma ajuda de Heriberto, e a tartaruga virou coelho. Foi Heriberto Coelho quem contactou as entidades e partidos que estão dando apoio ao evento, elaborou o belo convite e o alastrou nas redes sociais. Ele é o maior mobilizador cultural da Paraíba. Se não houvesse brigado com o governador Ricardo Coutinho, Heriberto Coelho deveria ser presidente do Espaço Cultural. Walter Santos, jornalista-empresário e um dos mais importantes multimídias do Brasil, lamenta que Heriberto não tenha sido escolhido pelo prefeito eleito Luciano Cartaxo para presidir a FUNJOPE (todavia, registre-se, Walter reconhece o valor de Maurício Burity, o escolhido de Cartaxo).

Vamos em frente: Política também é Cultura. E Heriberto realizou uma grande mobilização para o evento de hoje (13/12 às 18:30 h.) em O Sebo Cultural. O petróleo, todos sabem, é uma magna questão política e cultural: recordem a campanha liderada, dentre outros, por Monteiro Lobato: O PETRÓLEO É NOSSO!

O Sebo Cultural, mais uma vez, vai ter casa cheia. Quem duvidar, é só comparecer. Depois do Ato Público, belos shows musicais. No próprio Ato Público, teremos a exibição do nosso hino de luta: Nordeste Independente, na voz apocalíptica da profetiza Elba Ramalho.

Como antecipação, transcrevemos as duas últimas estrofes do  magnífico cordel composto por Bráulio Tavares e  Ivanildo Vilanova e cantado por Elba, sendo que a fala final, dizendo que "o povo não é besta", é um improviso da cantora: oportuno, feliz improviso.

Obs. Como o poeta-filósofo Bráulio Tavares já explicou mais de uma vez, Elba usou, na gravação que ficou famosa, apenas umas poucas das muitas glosas que ele e Ivanildo Vilanova fizeram sobre o mote "Imagine o Brasil ser dividido / e o Nordeste ficar independente".

Nordeste Independente

Bráulio Tavares e Ivanildo Vilanova


Se isso aí se tornar realidade
E alguém do Brasil nos visitar
Neste nosso país vai encontrar
Confiança, respeito e amizade,
Tem o pão repartido na metade,
Tem o prato na mesa, a cama quente,
Brasileiro será irmão da gente,
Vem pra cá que será bem recebido:
Imagine o Brasil ser dividido
E o Nordeste ficar independente.


Eu não quero com isso que vocês
Imaginem que eu tento ser grosseiro,
Pois se lembrem que o povo brasileiro
É amigo do povo português.
Se uma dia a separação se fez,
Todos dois se respeitam no presente,
Se isso aí já deu certo antigamente
Nesse exemplo concreto e conhecido:
Imagine o Brasil ser dividido
E o Nordeste ficar independente.


Povo do meu Brasil,
Políticos brasileiros:
Não pensem que vocês nos enganam,
Porque nosso Povo não é besta.




quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Ato Público dia 13 em O Sebo Cultural pela derrubada do veto à distribuição dos royalties do petróleo: a coisa tá pegando - Mesa já conta com Rui Galdino, Renan Palmeira, José Calistrato, Vanderli Farias, Arruda do PSOL - Inocêncio Nóbrega enviou mensagem

Do intelectual/jornalista/historiador Inocêncio Nóbrega recebo, via e-mail, a seguinte mensagem:

"Guerreiro Washington Rocha:
Acompanho sua luta, Nordeste Independente, e o desabafo de um mineiro, via internet, pelo veto ao veto. Penso que outras regiões também estarão prejudicadas, se o Congresso preferir a traição ao pacto federativo da República. Gostaria de voltar a gritar junto a você, um Brizola redivivo. Não sendo possível, aceite esta modesta contribuição, dos brizolistas convictos - também falo por Kevlemm".

O citado Kevlemm é filho de Inocêncio e foi, junto comigo, um dos fundadores da Militância Brizolista. Certamente, exultei com a mensagem destes queridos companheiros, que, distantes, aproximam-se pela solidariedade.

A receptividade aqui mesmo em João Pessoa ao chamado para o Ato Público pela derrubada do veto perverso também está sendo muito positiva. Apenas iniciamos os contatos e já temos confirmados para a Mesa os nomes citados no título desse post, pessoas de grande dedicação às causas do Povo. Seguramente, conseguiremos reunir em O Sebo Cultural (dia 13 - quinta-feira - 18h.) representantes de todos os partidos, cidadãos sem partido e até aqueles que detestam política partidária. Ivaldo Gomes, por exemplo, que na última eleição fez campanha pelo VOTO NULO, está divulgando o evento do dia 13.

Na frente parlamentar a coisa anda bem. Tão bem que a turma do Rio de Janeiro já está ameaçando com chicanas no sentido de melar a votação urgente do veto, para a qual já foi conseguido o número suficiente de assinaturas. Se Atos Públicos de apoio à derrubada do veto se espalharem pelo Brasil, chicana nenhuma conseguirá deter a votação. Havendo votação, é certo que o veto cairá.

Se não cair, teremos de declarar o NORDESTE INDEPENDENTE. Lá em O Sebo Cultural ergueremos um telão para ver a profetiza Elba Ramalho cantar o nosso hino (ou, quem sabe, ela esteja lá em carne e osso). Vão aí mais duas estrofes dessa obra-prima.


NORDESTE INDEPENDENTE

Bráulio Tavares e Ivanildo Vilanova


Em Recife o distrito industrial,
O idioma ia ser nordestinense,
A bandeira de renda cearense,
'Asa Branca' era o Hino Nacional;
O folheto era o símbolo oficial,
A moeda, o tostão de antigamente,
Conselheiro seria o Inconfidente,
Lampião o Herói Inesquecido:
Imagine o Brasil ser dividido
E o Nordeste ficar independente.


O Brasil ia ter de importar
Do Nordeste algodão, cana, caju,
Carnaúba, laranja, babaçu,
Abacaxi e o sal de cozinhar;
O arroz e o agave do lugar,
A cebola, o petróleo, o aguardente;
O Nordeste é auto-suficiente,
O seu lucro seria garantido:
Imagine o Brasil ser dividido
E o Nordeste ficar independente. 








quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Com espetáculo NORDESTE INDEPENDENTE, O Sebo Cultural será palco para Ato Público pela derrubada do veto à distribuição dos royalties do petróleo. Heriberto Coelho coordenará Mesa. Rui Galdino,brizolista histórico, promete mobilização

O PETRÓLEO É DE TODOS OS BRASILEIROS! DERRUBA, CONGRESSO!

A campanha pela derrubada do veto presidencial à distribuição dos royalties do petróleo está tomando corpo. Enfrenta pressões e sofre traições, mas avança. A bancada da Paraíba no Congresso Nacional está de parabéns, uniu-se para requerer urgência na votação do veto. Houve apenas uma deserção, a do Padre Luís Couto, deputado do PT, que preferiu atender outros interesses que não os da Paraíba. Sem surpresa, aliás, pois o Padre Couto já fora o único parlamentar paraibano a votar contra a Paraíba quando da aprovação na Câmara do Projeto de Lei dos royalties.

O Ato Público pela derrubada do veto a ser realizado no dia 13 em O Sebo Cultural também começa a atrair atenções. Várias mensagens nos foram enviadas garantido presença, dentre essas a de Rui Galdino, brizolista histórico, que se comprometeu a mobilizar os antigos militantes do "verdadeiro PDT"; ou seja, o PDT dos tempos do Brizola. Ele, que comporá a Mesa do evento, convidará para a mesma os vereadores Durval Ferreira, Tavinho, Pedro Alberto Coutinho, Marcus Vinícius, Marco Antônio e João Almeida, todos oriundos do brizolismo. Nada mais coerente, afinal de contas trata-se de uma luta pela integração nacional, sendo o nacionalismo marca registrada do Trabalhismo.

No Ato Público de O Sebo Cultural, os trabalhos da Mesa serão conduzidos pelo intelectual orgânico (antigamente se dizia intelectual engajado; depois que Gramsci virou coqueluche, diz-se intelectual orgânico) Heriberto Coelho. O evento, que está marcado para começar às 18 horas, deverá se estender até às 20:30 h., sendo seguido por um espetáculo musical, cujo ponto alto será a Profecia de Bráulio Tavares e Ivanildo Vilanova, na voz apocalíptica de Elba Ramalho: NORDESTE INDEPENDENTE. 

Obs. Se puder ser ao vivo, com os profetas e a profetiza presentes, ótimo. Se não for possível, o telão dará conta. E todos cantaremos juntos.

Nessa luta pela derrubada do veto injusto e perverso, NORDESTE INDEPENDENTE será o nosso hino. Isso quer deixar claro que o Nordeste não aceita mais ser desprezado, desassistido, defraudado e afrontado. Já indicamos a quem não conhece NORDESTE INDEPENDENTE: que vá ao Youtube. Porém, para incentivar os preguiçosos, transcrevemos aqui as duas primeiras estrofes deste hino profético, deslumbrante e grandioso:


Nordeste Independente

Bráulio Tavares e Ivanildo Vilanova


Já que existe no Sul este conceito,
Que o Nordeste é ruim, seco e ingrato,
Já que existe a separação de fato,
É preciso torná-la de direito.
Quando um dia qualquer isso for feito
Todos dois vão lucrar imensamente,
Começando uma vida diferente
Da que a gente até hoje tem vivido:
Imagine o Brasil ser dividido
E o Nordeste ficar independente.


Dividindo a partir de Salvador
O Nordeste seria outro país:
Vigoroso, leal, rico e feliz,
Sem dever a ninguém no exterior.
Jangadeiro seria o senador,
O cassaco de roça era o suplente,
Cantador de viola o Presidente
E o vaqueiro era o líder do partido:
Imagine o Brasil ser dividido
E o Nordeste ficar independente.

sábado, 1 de dezembro de 2012

DERRUBA, CONGRESSO! ou NORDESTE INDEPENDENTE

O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, peitou a Presidente Dilma, botou o bloco na rua, pagou pra ver... e venceu. Dilma vetou o artigo mais importante da Lei dos royalties do petróleo, precisamente aquele que redistribuía as riquezas petrolíferas do Brasil de modo a favorecer o desenvolvimento de todos os estados brasileiros. Foi um uma afronta ao pacto federativo, uma agressão aos brasileiros das regiões mais carentes. Tem de ter resposta imediata e eficaz. Resposta, aliás, óbvia ululante, escancarada, de fácil execução: derrubar o veto. Neste sentido, a Confederação Nacional dos Municípios já lançou nota conclamando os brasileiros para uma campanha nacional. Vamos atender ao chamado.

O Projeto de Lei dos royalties do petróleo foi aprovado na Câmara e no Senado por ampla maioria. Por óbvio, o Congresso Nacional terá ampla maioria para derrubar o veto presidencial. Só não derruba se não quiser, se os congressistas do Nordeste, do Norte, do Sul e do Centro-Oeste se acovardarem, pedirem arrego, traírem miseravelmente seu eleitorado. Não farão isso.

Mas essa luta não pode se dar apenas no Congresso, tem de ocupar as ruas. Foi por ocupar as ruas do Rio de Janeiro que o governador Sérgio Cabral venceu a primeira batalha. Nós outros, vetados da riqueza maior do Brasil, temos de ocupar ruas e ruas pelo país afora para vencer a segunda batalha, uma terceira, e quantas forem necessárias para fazer valer os direitos dos entes federados.

Os lideres políticos que foram vitoriosos na luta para aprovar o Projeto de Lei têm de agir para dar consequência à essa luta. No primeiro momento pós-aprovação, dormiram de toca. Aí, a turma do Sérgio Cabral, que só usa toca em festa em Paris, passou por cima deles. Agora, não vamos esperar, vamos botar nosso bloco na rua:

O PETRÓLEO É NOSSO, DE TODOS OS BRASILEIROS: DERRUBA, CONGRESSO!

A campanha pelo veto de Dilma, se bem que comandada por Sérgio Cabral, ganhou apoio dos intelectuais e dos artistas cariocas, gente famosa, simpática e idolatrada. Essa mesma gente deve parte da fama ao uso artístico-político-ideológico do sofrimento dos nordestinos. Vê-se agora que era da boca pra fora. Essa bofetada do veto presidencial aos interesses econômicos do Nordeste (também do Nordeste) vem num momento em que a gente sertaneja padece o horror de uma seca inclemente e de um descaso vergonhoso por parte do Governo Federal. Os intelectuais e artistas do Rio Maravilha esqueceram do "Carcará pega, mata e come". Eles apenas pensam em comer sozinhos os royalties da maior riqueza nacional. Por eles, Carcará pode morrer de fome.

Todavia, diz a canção de João do Vale: "Carcará, mais coragem do que home".  Vamos ver se nosso carcará continua valente, "um pássaro malvado" com "o bico volteado que nem gavião". O carcará a que me refiro são os políticos, mas não só os políticos profissionais, e sim a todos que possam travar essa luta política. Política não é pra bicho frouxo. Tem de ser carcará.

E agora peço vênia (tá na moda) aos demais estados prejudicados pelo veto da Dilma para me ater à minha pequenina e brava PARAÍBA MULÉ MACHO: 

Começo com o senador Vital do Rêgo. Ele foi, no Senado, o feliz relator do Projeto de Lei que estabelece justiça distributiva da maior riqueza nacional, tem grande prestígio na República, é peça chave. Não pode recuar, tem de ir para a linha de frente da luta pela derrubada do veto.

Sigo com o governador Ricardo Coutinho, a quem tanto tenho criticado. Contudo, nunca deixei de reconhecer que o governador paraibano é um sujeito destemido. Arrogante e prepotente, porém destemido: um verdadeiro carcará. Então, que assuma com destemor essa luta em defesa da Paraíba, do Nordeste e do Brasil.

Acho que podemos contar o prefeito eleito de João Pessoa, Luciano Cartaxo. O novo prefeito tem prestígio com Dilma. Então, deve ser sincero: "Presidenta, entendemos a situação política que levou Vossa Excelência ao veto, mas não trabalhe contra a derrubada, não se desgaste ainda mais".

Conto com alguns amigos: o prefeito Hexa-Campeão Marcus Odilon (duas vezes prefeito em Juarez Távora, quatro vezes em Santa Rita); os vereadores eleitos Mestre Fuba (na capital) Genival Guedes e Farias (em Santa Rita).

Apelo para conhecidos meus com mandato, pessoas que, sem ter maior aproximação, conheço de longa data e tenho estima e admiração; além do que, recordo-me de algumas lutas que lutamos juntos: o deputado Anísio Maia, coordenador da vitoriosa campanha do PT em João Pessoa e o melhor organizador político que se possa imaginar; vereador Durval Ferreira, o melhor Presidente que a CMJP já teve; os combativos vereadores Tavinho, Marcus Vinícius, Pedro Alberto Coutinho e João Almeida, que conheço dos tempos do PDT de verdade, o PDT do Brizola; a vereadora Sandra Marrocos, minha brilhante aluna no curso de Filosofia na UFPB.

O mais complicado é chamar para essa luta meus amigos que não têm mandato político, formalmente desobrigados de tais enfrentamentos. Também eu, aliás, não tenho mandato, mas desde adolescente sempre gostei de me meter em confusão. Vou chamar apenas dois, porque sei que eles gostam de briga, são ex-guerrilheiros e eternos bolchevistas, enfrentaram tortura, bala e muitos anos de cadeia: José Calistrato Cardoso e José Emilson Ribeiro.

Por último, e muito importante, os artistas e intelectuais, pois sem essa tribo nenhuma campanha de opinião pública prospera. Como são muitos, pois a Paraíba tem mais artista e intelectual do que bode e urubu, citarei apenas um, que é um intelectual mobilizador: Heriberto Coelho. Apelo para que ele conclame "as antenas da raça", que faça uma badalação pela derrubada do veto lá em O Sebo Cultural

Enfim, se nós nordestinos formos mais uma vez defraudados, vamos botar pra quebrar: declararemos INDEPENDÊNCIA. Temos hino e tudo mais. Lembrem-se da GUERRA DE PRINCESA, comandada por Dom José Pereira, o Invencível. Nossa guerra de agora não haverá de desonrar a guerra de outrora. Em caso de derrota no Congresso (que só acontecerá por covardia e traição) teremos mesmo de partir para a "separação de fato e de direito", conforme já profetizado no nosso hino. 

Tal conflito, que dividirá o Brasil "a partir de Salvador", já fora anunciado pelos profetas Bráulio Tavares e Ivanildo Vilanova, na voz apocalíptica de Elba Ramalho: NORDESTE INDEPENDENTE. Justamente, é esse o hino ao qual nos temos referido. Quem não conhecer, vá ao Youtube.