Blog Rocha 100

No princípio, criou Deus os céus e a Terra”. Ótima frase para um Blog que navegará 100 fronteiras: dos céus metafísicos à “rude matéria” terrestre. “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. Pois, somos também deuses, e criadores. Podemos, principalmente, criar a nossa própria vida, com autonomia: isto se chama Liberdade. Vida e Liberdade são de Deus. Mas, quem é “Deus”? Devotos hebreus muito antigos, referiam-se a Ele apenas por perífrases de perífrases. Para Anselmo de Bec, Ele é “O Ser do qual não se pode pensar nada maior”. Rudolf Otto, diante da dificuldade de conceituá-Lo, o fez precisamente por essa dificuldade; chamou-O “das Ganz Andere” (o Totalmente Outro). Há um sem número de conceitos de Deus. Porém, o que mais soube ao meu coração foi este: “O bem que sentimos intimamente, que intuímos e que nos faz sofrer toda vez que nos afastamos dele”. É de uma jovem filósofa: Catarina Rochamonte.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Miséria miserável

O Programa Brasil sem Miséria, lançado pela Presidente Dilma no dia 2 de junho, é meritório, merece o apoio de todos. Porém, ai porém... Não deveria iludir. A linha de corte para a miséria foi fixada em 70 reais por mês, per capita. Não sei por qual critério, nem sei se o ministro Palocci - que estava sorridente ao lado de Dilma durante o lançamento do Programa - foi um dos arquitetos. Trata-se, de qualquer modo, de uma artimanha bisonha que visa dimuir, conceitualmente, o número de miseráveis para efeito de mais facilmente erradicar a miséria. Miséria abaixo de 70 reais é miséria tão miserável que nem se concebe. Todo mundo sabe que quem "sobrevive" com 70 reais por mês, não sobrevive;  não é miserável, é esqueleto, defunto, já morreu. Façamos as contas. Para facilitar, e como gesto de boa vontade, vamos arredondar o limite da miséria para 100 reais. O pobre não miserável, geralmente, não tem casa própria (por isso, o sonho da casa própria), então terá de pagar aluguel. O que o ex-miserável, ascendendo à pobreza, conseguirá alugar por 50 reais que não seja uma loca? Digamos que consiga: uma morada muito pobre, mas digna. O pobre não miserável deve fazer, quando não três, pelo menos duas refeições ao dia, a mais frugal possível: pão com margarina e café sem leite, pela manhã; feijão com farinha e rapadura (nada de carne), valendo por almoço e janta. Inclua-se o gasto com combustível, pois pobre tem de cozinhar a própria comida, não podendo se dar ao luxo de comer fora. O ex-miserável, novo pobre, não conseguirá fazer duas parcas refeições diárias sem gastar, por mês, digamos, 50 reais. Acabou o dinheiro. Para que fosse pobre, mas não miserável, o imaginado cidadão deveria ainda: a) ter algum asseio - sabonete, pasta de dente, papel higiênico; b) trajar roupa que não seja trapo; c) locomover-se no transporte mais barato - ônibus; ter o mínimo de lazer (se não, é melhor morrer). Nem com 200 reais. Nem com 300 reais. Querem saber? O salário mínimo de 545 reais ainda é uma miséria. Insisto em que o Programa Brasil sem Miséria é meritório. Entretanto, ainda que plenamente realizado, não terá atingido a nobre meta de erradicar a miséria, que ficará escondida sob outro nome. Enfim, devemos apoiar o Programa, mas não devemos aceitar a mentira. O Governo Dilma, aliás, acertaria duas vezes se fizesse a coisa certa pela via verdadeira.  

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